Marcelo Rebelo de Sousa fez o último discurso, de 10 Junho, como Presidente da República.

“Somos portugueses porque somos universais”

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

Na cerimónia do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Lagos, Marcelo Rebelo de Sousa fez o último discurso, nesta data, como Presidente da República.

“Não há quem possa dizer que é mais puro e mais português do que outro”

O Presidente da República descreveu hoje os portugueses como uma mistura de povos vindos de todas as partes ao longo de séculos e defendeu que ninguém se pode dizer mais puro ou mais português.

“Aqui, neste lugar simbólico de tanta História feita e a fazer, como nos contou Lídia Jorge, uma das maiores destes tempos, aqui somos chamados a recordar, a recriar e a agradecer”, afirmou o chefe de Estado.

Ao “recordar os quase 900 anos da pátria comum”, Marcelo Rebelo de Sousa expressou “orgulho naqueles que a fizeram, vindos de todas as partes: gregos, fenícios, romanos, germânicos, nórdicos, judeus, mouros, africanos, latino-americanos e orientais”.

“E desde as raízes, lusitanos, lioneses, borgonheses, gauleses, saxões, os mais antigos aliados políticos. Recordar esses e muitos mais que de nós fizeram uma mistura, em que não há quem possa dizer que é mais puro e mais português do que qualquer outro“, acrescentou.

No início da sua intervenção, o Presidente da República referiu que antigamente em Lagos “se somavam os estaleiros das naus do futuro e o mercado dos escravos” e agora se cruzam “emigrantes regressados à pátria conjuntamente com residentes europeus, das Américas, das Áfricas e das Ásias”.

Marcelo Rebelo de Sousa retratou o passado de Portugal como composto por guerras perdidas e vencidas, independências perdidas e recuperadas, epopeias, acertos e erros.

“[Há que recordar] o que delas soubemos acertar, aprender, converter em futuro nosso e da humanidade, mas também o que errámos, o que desperdiçámos, o que não fizemos em continentes e oceanos”, disse.

“Tudo isto e muito mais definiu o que somos: experientes, resistentes, criativos, heróis nos momentos certos, capazes de falar línguas, de entender climas e usos, de conviver com todos, de fazer construindo dia a dia pontes”, considerou, concluindo: “Nós somos portugueses porque somos universais e somos universais porque somos portugueses”.

Segundo o Presidente da República, é preciso “cuidar mais do que puder e dever ser feito, produzido, inovado, investido, exportado e sobretudo proporcionado a quem é nela a viver”.

“Cuidar dos que já ficaram para trás ou estão a ficar. E são sempre entre dois e três milhões, e são muitos há muito tempo, regime após regime, situação após situação, intoleravelmente são muitos, são de mais”, prosseguiu, condenando a pobreza que persiste no país.

O chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas apelou também a que se cuide dos emigrantes portugueses, “compatriotas que todos os dias criam Portugal por todo o mundo”, e “do mar, dos oceanos”.

“[Há que] cuidar da fraternidade com os povos e os estados que como nós falam português e fazem do português uma grande língua mundial. Cuidar da nossa pertença na Europa, unida, aberta, que acredita em valores humanos, de dignidade, respeito pelas pessoas, seus direitos e deveres, sua pluralidade de cultura e de vida”, acrescentou.

Na parte final do seu discurso, o chefe de Estado fez um agradecimento ao “povo anónimo” de “muitos milhões, desde há 900 anos, que foram e são Portugal”.

“Portugal não é uma ideia abstrata, não é apenas uma paixão, um amor sem conteúdo. É uma História, é um passado, é um presente, é um futuro, mas é um povo, é gente de carne e osso, com alegrias e tristezas, com júbilos e com dores, com euforias e sacrifícios. Isto é Portugal”, declarou.

“Este recriar Portugal é a nossa obrigação primeira neste novo ciclo da nossa História, 50 anos depois de termos chegado à democracia e à liberdade”, declarou o chefe de Estado, na cerimónia militar comemorativa do 10 de Junho, em Lagos, no distrito de Faro.

“Mas recordar é também recriar. Temos o dever de nos recriar, de nos ultrapassar, cuidar melhor da nossa gente, para que seja mais numerosa, mais educada, mais atraída a ficar nesta pátria feita de um retângulo e dois arquipélagos, se quiser ficar, ou a partir para voltar, e nunca perder a saudade da terra, se quiser partir”, defendeu, em seguida.

Marcelo Rebelo de Sousa, que termina o seu segundo mandato presidencial em 09 de março do próximo ano, fez hoje o seu décimo e último discurso num 10 de Junho como Presidente da República.

Créditos Imagem:

@Miguel Figueiredo Lopes/Presidência da República

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