Amnistia Internacional repudia extradição de Julien Assange de Inglaterra para os EUA

“Dia sombrio para a liberdade de imprensa”

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

A polémica instalou-se em torno da decisão do Ministro do Interior inglês que aprovou a extradição do jornalista Julien Assange para o estados Unidos da América onde o querem julgar por “crimes de guerra” que ele não cometeu. Se o considerarem culpado pode ser condenado a 175 anos de prisão.

Na verdade, o Assange fez foi mostrar publicamente vídeos que recebeu das suas fontes no Iraque e que mostravam soldados americanos a matarem civis iraquianos.

O jornalista, que está preso, apenas fez o que atualmente qualquer um de nós pode fazer e faz com um telemóvel na mão. Registar e colocar nas redes sociais. Como na altura não havia redes sociais, ele recebeu os vídeos de uma fonte e meteu-os no site da Wikileaks.

A mulher de Julian Assange, Stella Moris, o principal apoio do jornalista que continua preso, é quem mais luta pela liberdade do marido.

“A sua saúde está a deteriorar-se a cada dia. Ele está na prisão de Belmarsh há mais de 3 anos, sem cumprir uma sentença. Ele está lá a pedido do governo dos EUA que quer extraditá-lo para os Estados Unidos para cumprir uma sentença de prisão perpétua”, esclarece Stella.

O site WikiLeaks descreveu a decisão do Reino Unido como um “dia sombrio para a liberdade de imprensa e a democracia britânica” .

A ex-embaixadora argentina no Reino Unido, Alicia Castro , alertou para os riscos de vida de Julian Assange caso se confirme a deportação para os Estados Unidos, o que foi confirmado esta sexta-feira, no âmbito do caso em que o fundador do WikiLeaks está a ser investigado por espionagem.

A ex-embaixadora no Reino Unido qualificou a decisão do governo britânico como um “fato gravíssimo” e alertou que a vida de Assange está em perigo.

“A extradição de Assange é cruel e sádica”.

“O objetivo é bajular os Estados Unidos e assustar os jornalistas. A mensagem é clara, os jornalistas que não respeitarem as regras serão destruídos”, disse.

Alicia Castro definiu Assange como um herói da verdade e lembrou que com o Wikileaks se dedicou a revelar informações sobre crimes de guerra nos Estados Unidos, espionagem global e corrupção mundial. E ainda lembrou lembrou que foram  Assange e a Wikileaks que divulgaram o vídeo de soldados americanos a matar civis no Iraque com um helicóptero de combate em julho de 2007.

“Foi assim que começou a perseguição contra Assange. Eles inventaram todo tipo de acusação porque havia nenhuma razão para persegui-lo”, rematou a ex-embaixadora.

Forte repúdio à decisão de extradição

De todo o lado levantam-se vozes contra a sentença. Até artistas levantaram as suas vozes.

“O caso de Julian Assange é tão importante porque vamos perder o verdadeiro jornalismo. Vamos perder a capacidade agora de encontrar a verdade”, disse uma das apoiantes do jornalista, a atriz Susan Sarandon.

A decisão do Ministro do Interior do Reino Unido de aprovar a extradição de Assange mostra que o Reino Unido concorda com os EUA e com que o jornalismo real deva ser criminalizado. Ou seja, dizer a verdade passa a ser crime.

O Comité para a Proteção dos Jornalistas ingleses emitiu já uma declaração sobre esta sentença.

“A extradição de Julian Assange para os Estados Unidos para ser julgado por acusações sob a secular Lei de Espionagem é um golpe para a liberdade de imprensa com implicações para jornalistas em todos os lugares”, disse o Diretor Executivo do CPJ, Robert Mahoney. “

Pedimos ao governo Joe Biden que cumpra seu compromisso declarado com uma imprensa livre, retirando todas as acusações contra o fundador do Wikileaks.”

“De acordo com a lei de extradição de 2003, o ministro assinará uma ordem se não houver motivo para proibi-la”, disse um porta-voz do Ministério do Interior, confirmando que o ministro Priti Patel assinou o decreto para transferir o jornalista, que tem 15 dias para recorrer desta decisão.

A acusação contra Assange

O sistema de justiça dos EUA quer julgar Assange por divulgar até 2010 mais de 700.000 documentos secretos sobre atividades diplomáticas e militares dos EUA, particularmente no Iraque e no Afeganistão.

Assange é acusado de espionagem já que os Estados Unidos afirmam que o australiano de 50 anos colocou em risco a vida de vários informadores ao publicar documentos confidenciais.

O secretário-geral da Amnistia Internacional já veio expressar a sua preocupação.

“Permitir que Julian Assange seja extraditado para os EUA o colocaria em grande risco e enviaria uma mensagem assustadora para jornalistas de todo o mundo.”

“Se a extradição prosseguir, a Amnistia Internacional está extremamente preocupada que Assange enfrente um alto risco de confinamento solitário prolongado, o que violaria a proibição de tortura ou outros maus-tratos.

As garantias diplomáticas fornecidas pelos EUA de que Assange não será mantido em confinamento solitário não podem ser levadas em consideração, dada a história anterior. ”

“Pedimos ao Reino Unido que se abstenha de extraditar Julian Assange, que os EUA retirem as acusações e que Assange seja libertado.”

Julian Assange vai apelar ainda mais da extradição porque viola o seu direito à liberdade de expressão.

Créditos Imagem:

Twitter

© 2022 Direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte, sem prévia permissão por escrito da Segue News. | Prod. Pardais ao Ninho.