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Monteiro Cardita
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Viagens rocambolescas com história

Longe de saber que me esperava uma épica viagem, levantei-me cedo para tudo fazer nas calmas como é da minha natureza.

Após uma primeira viagem de autocarro dentro da cidade, outra de metro e mais outra de autocarro em estrada, às onze horas da manhã antecipava-me ao stress prenunciado no aeroporto de Charleroi.

Na contagem das horas, ao meio dia e meio já me encontrava do lado de dentro da aerogare, ultrapassadas que estavam as caóticas filas e com todos os procedimentos de embarque efetuados de modo a apanhar avião para Lisboa, que devia levantar voo às dezasseis horas, como aconteceu com um ligeiríssimo atraso.

No aeroporto belga começou a primeira a primeira espera, prevista desde do início, aliás, tempo esse que aproveitei para ler boa parte da “Mais Breve História da Rússia – dos Eslavos a Putin”, do José Milhazes, que recomendo vivamente.

Embarque realizado a horas e voo normal, com Lisboa à vista dei por mim salivar com na expectativa de uma aterragem para breve.

Eis senão quando o comandante liga o microfone para anunciar que devido a problemas na pista do aeroporto Humberto Delgado teríamos de continuar no ar até ser dada a autorização para a aterragem.

Como não percebi bem o anúncio do comandante perguntei a uma das assistentes de bordo o que se estava a passar.

Ela contou-me então haver um avião avariado na pista do aeroporto inviabilizando operações no solo.

Pensei que as coisas se resolveriam a breve trecho e acreditei que mais uns minutos e tudo se normalizaria.

Vim mais tarde a saber que tinham rebentado os pneus de um jacto privado contratado para transportar o Presidente da Guiné-Bissau.

Completamente enganado. A saga acabara de começar.

O comandante liga de novo o microfone para anunciar que o voo iria ser desviado para Faro dado não ser previsível que a pista da Portela ficasse desimpedida nas próximas duas horas.

E assim lá se fez um voo de mais meia hora até Faro, onde viríamos a aterrar no bafo algarvio. Acabei por aproveitar para desfrutar da belíssima paisagem que se avista do ar sobre as ilhas do parque natural da Ria Formosa, que é sempre um regalo para a vista.

No meio dos contratempos é preciso saber tirar o melhor partido para nem tudo ser mau.

Já em terra, uma nova seca nos aguarda na espera de autocarros que chegaram de Sevilha.

Ao que informaram os responsáveis da companhia aérea não havia autocarros disponíveis no Algarve nem no Alentejo pelo que a solução foi recorrer aos da Andaluzia que levaram cerca de duas horas e meia até chegarem ao aeroporto Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Mais três horas de viagem por autoestrada e lá chegamos finalmente a Lisboa, mais mortos do que vivos de cansaço.

Particularmente difícil foi a viagem para as crianças de colo com os pais a desesperaram por chegar ao destino.

Já no aeroporto de Lisboa, isto cerca da uma da manhã, nem queiram imaginar as filas a perder de vista para os táxis.

Para esquecer. Boa parte das pessoas tiveram novo calvário pela frente até poderem finamente descansar.

O que não foi o meu caso. Felizmente uma alma caridosa se prontificou para me ir buscar.

De qualquer modo, sempre foram sete horas a mais do que o previsto, sendo que o avião que nos deixou em Faro não pode voltar com os passageiros para Lisboa porque deixou de ter slot de aterragem e as pessoas que aguardavam no aeroporto da Portela por aquela aeronave de regresso a Charleroi viram esse voo cancelado, o que é sempre um enorme transtorno na programação da vida de cada um.

Viajar nos tempos que correm é sempre uma aventura carregada de incertezas. Com o caos instalado por todo o lado, nos próximos tempos quero-me longe de aeroportos e aviões.

Fazer férias é em Portugal no sossego da paz alentejana ou numas fontes termais longe de
multidões e dos magotes de turistas, que regressaram em força.


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