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Monteiro Cardita
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Saudades de desfilar na Avenida da Liberdade

O 25 de Abril na estranja é vivido de modo bem diferente, como aliás quase tudo o resto.

Porém, o ponto é que comemorar a data do dia da Liberdade em Portugal para quem vive e trabalha fora do País não é tarefa fácil, desde logo não é feriado, e depois mão se encontram cravos à venda; mas quem fizer mesmo questão terá de os encomendar junto das floristas ou nos viveiros.

Digo-o com a experiência de quem calcorreou os mercados, os supermercados, os minimercados, as floristas léguas em redor sem descortinar nenhum cravo vermelho, apenas avistando um molho de amarelos, que objetivamente não cumpriam a função.

Este ano, no entanto, a fraternidade teve um renovado sabor.

Depois de dois anos privados da celebração com os amigos, podemos de novo voltar a confraternizar num jantar organizado para o efeito, e cantar em conjunto a Grândola Vila Morena, do Zeca Afonso, entoar o Depois do Adeus, do Paulo de Carvalho, e mais umas quantas canções revolucionárias e outras tantas de intervenção, num ambiente deveras emocionante em que o chamamento pátrio correu acelerada e livremente nas veias.

Também, é certo, embalado pelo branco, pelo tinto e pelo verde, todos das melhores castas portuguesas servidos numa tasca de altíssima categoria e requinte popular.

A organização providenciou fotocópias da letra da Grândola para avivar as memórias mais falhas, mas na verdade houve quem não precisasse da cábula, e tratou também de encomendar várias dezenas de cravos encarnados profusamente distribuídos pela grande mesa em forma de u e por três enormes jarras que ilustravam com toda a pujança revolucionária ao que íamos.

Gastronomicamente, para não fugir à boa tradição lusitana, houve bacalhau no forno, carne assada, e ainda omelete vegetariana para os dos novos costumes.

As entradas, essas, seguiram a preceito os usos da nossa terra, pastéis de bacalhau, pois claro, moelas de frango, apuradas à maneira, carne de porco à alentejana e aqui tenho de dizer que minha é muito melhor, mas enfim não estava mal de todo, rissóis de camarão na fritura certa, além do presunto e do queijo, ambos de muito boa qualidade. Só com as entradas quase ficamos fartos.

Mas não uns dos outros, já que as conversas saltavam sem máscara de ramo em ramo para serem postas livremente em dia.

Contudo, nesta de vida de emigrante uma das coisas que pessoalmente mais me custa mesmo é não poder descer a Avenida da Liberdade no 25 de Abril.

Fica sempre algo em falta. Como se o dia inicial não fosse inteiro e limpo.

 

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