Sabores de infância

Ouriços do mar e moreia frita são dos petiscos que raramente se vêm, mas que me trazem à memória os sabores de infância herdados do meu pai.

Parece até que o estou a no quintal a tratar a moreira com todo preceito, a cortá-la ao meio, a espetar-lhe umas travessas feitas de canas, sempre as mesmas que serviam de umas para as outras, para logo depois ser posta a secar ao sol vários dias até ficar pronta para ser frita, cuno ponto era ficar crocante ou estaladiça.

Já os ouriços do mar requeriam toda uma outra preparação e era uma tarefa coletiva.

Primeiro alistava-se o grupo de amigos que no dia aprazado que os haviam de ir mariscar lá para as bandas do Malhão e ao final da jornada chegavam carregados com sacas deles que haveriam de ser descarregados dentro de umas enormes fogueiras postas a arder no meio do largo da aldeia.

E toda a gente era convidada.

A técnica de comer os ouriços tinha de ser apurada.

Depois de assados, era preciso tirar-lhes os picos. Para tanto protegíamos as mãos com umas rodilhas, pois os bichos além de nos picarem também estavam bem quentes porque tinham saído diretamente do fogo.

Retirados os picos com uma faca era chegada altura de serem abertos, o que se fazia também com uma faca que o cortava ao meio a carapaça. Findo esse processo, a hora do prémio.

Manjar supremo do  sabor a mar que só que as ovas de ouriço contêm.