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MUDA
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“RESVÉS CAMPO DE OURIQUE…”

No século VII (D.C.) a Igreja Católica fez celebrar o FESTUM OMNIUM SANCTORIUM, um dia de
festa para que os maus espíritos fossem afastados. Pouco mais de uma centena de anos depois o 90. o Papa, Gregório III, de origem síria, dedicava em Roma no Primeiro de Novembro uma capela à celebração do mesmo ‘Dia de Todos os Santos’.

Data em que a História viria a registar acontecimento (de maus espíritos?) de catastróficas consequências.

Pois foi no Primeiro de Novembro de 1755, fez dia 1 de Novembro, 268 anos, que ao longo das falhas de três Placas Tectónicas (a Africana, a Euro-asiática e a Americana [do norte]), cuja confluência se situa algures no leito atlântico a sudoeste de Portugal e a noroeste da costa marroquina, se deu um fenómeno de subducção: uma das placas, a africana, “mergulhou” literalmente sob a placa euro asiática causando terramoto de grande intensidade, que teria sido da ordem de 8,6-8,7 e cujas reverberações se alastraram a milhares de quilómetros de distância.

Lisboa celebrava esse Dia de Todos os Santos; a populaça que também de zonas vizinhas tinha acorrido à celebração de missas do Santo Dia sob tectos de capelas, de majestosas igrejas e catedrais para depois também participar em feiras, pouco tempo teve de pré-aviso.

O chão e o solo sacudiram violentamente durante intermináveis minutos.

 

Telhados, tectos, colunas e paredes de pedra tanto de edifícios de prece, como de muitos outras estruturas lisboetas, cediam como peças de dominó.

Nas ruas, houve multidões a acorrer ao Paço da Figueira onde se situava o Paço Real e um monumental teatro apenas edificado, ambos em colapso total (Praça do Comércio).

Nesse dia de sábado, a família real partira muito cedo para (Santa Maria de) Belém.

As águas do Tejo acabariam por também reservar mortífera surpresa. Um maremoto, causado pelo
levantamento do leito atlântico na zona de subducção, galgou centenas de milhas marítimas em
pouquíssimo tempo.

 

Ao atingir a foz do Tejo o maremoto afunilou-se a montante, as suas turbulentas
águas cobriram num ápice grande parte da Baixa de Lisboa – onde tinham deflagrado múltiplos incêndios que acossados por ventos de nordeste a temperaturas de centenas de graus centígrados queimavam vivos aqueles que tivessem escapado ao desmoronamento de edifícios, ou eram afogados pelas águas do maremoto.

 

Grande parte da capital portuguesa ficava totalmente destruída; calcula-se (sem se poder saber ao certo) que tenham perecido para cima de meia centena de milhares de pessoas. Maior probabilidade de sobrevivência tiveram aqueles que se encontrassem em zonas de quota mais elevada da cidade.

Casablanca, em Marrocos, nesse Dia de Todos os Santos de 1755, também sofreu destruição de enorme
magnitude. A falha da Placa Tectónica Africana situa-se relativamente perto.

Naqueles tempos as notícias não eram tão lestas a propagar-se quanto hoje. Demoraria três dias primeiro que grande parte da Europa viesse a saber o que tinha acontecido em Lisboa. Em França, um muito chocado Voltaire fazia publicar no seu Poème sur le désastre de Lisbonne, composto em Dezembro de 1755, o seu ponto de vista reflectindo aquilo que seria a problemática do Diabo; tratava-se de um dos mais crispados ataques literários ao Optimismo.

No léxico português, por sua vez, surgiu um termo popular que é ainda muito usado nos dias que correm.

As céleres águas do maremoto de 1755, galgando ladeiras de Lisboa acima teriam acabado por ‘sossegar’ ao bordejarem zonas da parte alta da cidade, nas circanias do então e hoje – bairro de Campo de Ourique.

Daí ter surgido e derivado a expressão: RESVÉS CAMPO DE OURIQUE!

 

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