Na sequência de uma troca de hemisférios encontrei-me numa terminal de camionetas vindas do centro nortenho aguardando a chegada do segundo profissional de Direito, em termos de antiguidade, ainda no activo em Portugal.
Decorria então a década dos anos 80; o nosso ‘João Semana da Advocacia’ – assim o apelidava eu, uma vez ter ele preferido regressar, recém-formado na Universidade de Coimbra na altura, a um pequeno burgo das suas raízes para ali abrir consultório, ao invés de enveredar rumo às ‘luzes da ribalda” de grandes metrópoles – vinha a Lisboa para participar num simpósio reunindo advogados, juízes e demais profissionais do ramo do Direito e da Justiça.
Depois de alojado fomos a um dos Cafés no Rossio. A conversa abordou um ou outro tema e pormenor derivando para práticas belicistas que grassavam em certos pontos deste berlinde cósmico que nos acolhe a que denominamos de Terra.
Palavra puxa palavra, a páginas tantas fui confrontado pela seguinte pergunta:
“Quantas pessoas acha que sejam necessárias para se chegar a um mundo melhor?”
Seria possível haver um núcleo de pessoas a conseguir chegar a tal fim, ou seria a pergunta um daqueles truques da semântica (pensava eu com os meus botões…) para dessa forma então alvitrar.
“Não, não”, asseverava-me o meu interlocutor. Pois bem, tive de admitir que não fazia a menor ideia.
“Duas!” disse-me. “Na sua expressão mais simples: unicamente duas!”.
“Duas?” retorqui, com perplexidade.
“Sim! A primeira oferece ajuda à segunda, esta a outra, em sequência que pode tornar-se em progressão geométrica; assim se pode chegar a um mundo melhor!”
Tratava-se de uma sugestão a soar muito a fórmula simplista, muito linear; bem sabemos nós no que pode dar a linearidade de silogismos lógicos.
Nessa tão estilizada simplicidade seria sequer possível haver a mais ínfima das probabilidades de se chegar a um mundo melhor, ou não passava de utopia elevada a culto?
A Humanidade, essa, sempre optou pela perene prodigalidade da ramificação de campos opostos: na religião, na política, nas ciências, no seu dia a dia e sem excepção na belicosidade.
Místicos orientais há que insistem na possibilidade única de ser a própria pessoa a tentar e a conseguir modificar a sua postura, as suas atitudes e preferências, com ou sem a ajuda de terceiros. Trata-se de algo muito pessoal, mantêm.
A ideia do nosso “João Semana da Advocacia”, porém, dava azo a uma certa ressonância. Fazia pensar: haveria minimamente essa possibilidade, uma vez internalizada em modus operandi universal, de uma tal linearidade ser viável, por pouco que aparentasse ser o seu alcance? Ao fim e ao cabo muito boa gente há a estender a mão a outrém.
Volvidas décadas nova onda de belicismo confronta a Europa e o resto do mundo, cujas causas e consequências desdobram-se na complexidade.
Aqui recordo esse café tomado algures no Rossio com quem já não faz parte desta dimensão, que recordo com afecto, e a sua fórmula simples para a busca de um mundo melhor.