Central Termoelétrica do Pego encerrou essa atividade. E agora? Quais são as alternativas? E os 150 postos de trabalho? Saiba o que vai acontecer.
Portugal é um dos primeiros países a não ter centrais nucleares ou a carvão em funcionamento, desde sexta-feira, dia 19 de Novembro, que o país deixou definitivamente de usar carvão na produção de eletricidade. O anúncio foi feito pela associação ambientalista ZERO, que espera que o futuro não passe agora por queimar biomassa.
“O futuro da central do Pego não deve passar por queimar biomassa, opção ineficiente que põe em causa objetivos mais ambiciosos de mitigação das alterações climáticas”, considerou a organização, em comunicado. Sábado foi o primeiro dia de produção de eletricidade sem recurso à queima de carvão, depois de a Central do Pego ter esgotado o stock de carvão que tinha, apesar de estar licenciada para funcionar até 30 de novembro.
A Associação ZERO diz que “esta data histórica em que se deixa de utilizar em Portugal o combustível mais poluidor em termos de emissões de gases com efeito de estufa causadoras das alterações climáticas, antecipando um objetivo que estava inicialmente traçado para 2030, não deixa de ser um alerta para a necessidade de planear antecipadamente e assegurar uma transição energética justa para o país rumo à neutralidade carbónica em 2050 ou desejavelmente antes”.
De acordo com eles, é fundamental garantir o enquadramento dos trabalhadores direta e indiretamente afetados e promover soluções que não ponham em causa os ganhos ambientais conseguidos.
A central a carvão do Pego era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoelétrica de Sines, que já encerrou em janeiro deste ano.
Não usar carvão para produzir eletricidade é essencial para a descarbonização e, na conferência do clima COP26, foi o tema mais falado com países de acordo e outros a recusarem acabar com o uso do carvão.
A ZERO sublinha que “com a retirada agora consumada das duas centrais a carvão, Portugal deverá registar uma enorme quebra de emissões de carbono, dado que o recurso a centrais de ciclo combinado a gás natural, caminho temporário para uma solução 100% baseada em fontes renováveis, se traduz em emissões de pouco mais de um terço por cada unidade de eletricidade produzida em comparação com o carvão”.
A central a carvão do Pego era fonte de emissão de diversos poluentes, tipo óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados.
E agora? Quais são as alternativas?
O fim da atividade desta central traz com ela a questão das alternativas, sendo o recurso à queima de biomassa uma das soluções, só que a ZERO garante “não ser sustentável”.
“Trata-se de uma solução ineficiente e contraditória com os objetivos de retenção do carbono na floresta e no solo e não se traduz numa significativa mais-valia face a outras soluções de mitigação climática”, afirmam no comunicado.
A associação defende que a concessão do ponto de ligação da Central do Pego deverá ter em consideração apenas projetos que resultem da “utilização de fontes de energia verdadeiramente renováveis e que de forma alguma se coloque a possibilidade de recurso a biomassa, tendo em consideração que esta não é, nem será de forma alguma renovável”.
Os ambientalistas alertam ainda para a escassez de biomassa residual florestal em território nacional, atendendo a que num raio de intervenção de 80 quilómetros são já inúmeras as centrais de biomassa e indústrias florestais que competem pela matéria florestal residual.
Acresce ainda que o espírito da proposta recente da Comissão Europeia, de julho de 2021, que faz parte do pacote “Preparados para os 55”, é de que “a partir de 31 de dezembro de 2026, (…) os Estados-membros não podem conceder apoio à produção de eletricidade a partir de biomassa florestal em instalações exclusivamente elétricas”.
E os 150 trabalhadores? O que lhes vai acontecer?
O Governo garante estar “preocupado” com o futuro profissional dos 150 trabalhadores da central a carvão do Pego e adianta que está a trabalhar para arranjar soluções.
O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, assegurou este domingo, em entrevista à SIC Notícias, que não vai haver problemas sociais para os trabalhadores com o fim da central termoelétrica do Pego. Matos Fernandes mostrou-se confiante de que os 150 trabalhadores serão integrados em “futuros projetos industriais”.
Questionado sobre o futuro profissional dos trabalhadores que integravam a central termoelétrica a carvão, em Abrantes, o ministro do Ambiente diz estar “preocupado” e na próxima terça-feira o assunto será abordado na reunião com os sindicatos.
Matos Fernandes não avançou com uma data para divulgar o que vai acontecer aos trabalhadores, mas garantiu que “o patrão vai mantê-los enquanto o concurso estiver a decorrer, isto é, até meados de janeiro”. Caso tal não aconteça, o Governo intervirá para assegurar os salários dos funcionários até terem novo emprego”.
O ministro do Ambiente adiantou que o encerramento da central traz “ganhos ambientais, ganhos da balança comercial, ganhos tecnológicos e em termos de autonomia energética”.
Para atingir a neutralidade carbónica em 2050, previa-se que as duas centrais, a do Pego e de Sines, terminassem em 2030 e Portugal conseguiu antecipar em 9 anos o encerramento.