O músico e a agência ‘Sons em Trânsito” pediram “um posicionamento do Governo português” diante da “intimidação” por parte da embaixada Russa em Portugal.
Pedro Abrunhosa e a Sons em Trânsito, pediram, esta sexta-feira, um “posicionamento do Governo português” em relação à “intimidação” que o artista diz ter sentido no comunicado da Embaixada da Rússia em Portugal sobre o cantor.
O comunicado começa com um esclarecimento onde sublinha que o artista “tem um profundo respeito e admiração pelo povo russo, pela cultura russa e em nenhum momento colocou isso em causa na sua atuação em Águeda ou em qualquer outro espetáculo”.
“Pedro Abrunhosa não confunde a Rússia e o seu povo com o seu regime e os seus líderes”, explicam, adiantando que “Portugal é, felizmente, um país com um regime democrático de raízes fundas e verdadeiramente consolidadas”.
E continuam: “A liberdade de expressão é um dos seus pilares mais importantes e do qual Pedro Abrunhosa jamais prescindirá”.
“O artista Pedro Abrunhosa e a Sons em Trânsito solicitam um posicionamento ao governo português sobre este assunto. Compreendemos que a Embaixada da Rússia não entenda facilmente o significado de liberdade de expressão, mas não deixa de ser inédito e muito preocupante que um cidadão português, em Portugal, seja assim intimidado por uma representação diplomática estrangeira”, lê-se na nota.
“No comunicado emitido pela embaixada russa é referido que a voz de Pedro Abrunhosa se ouviu nos corredores do poder russo e que as autoridades daquele país ficarão atentas às atividades do músico”, referem no comunicado.
Todavia, tal como afirmam, “também as vozes das crianças, das mulheres e dos cidadãos ucranianos e russos mortos nesta guerra injustificável se fazem ouvir em todo o Mundo e, compete aos cidadãos, mormente aos artistas, fazer com que a barbárie não caia na normalização”, esclarecem.
E a concluir, garantem que Pedro Abrunhosa “deseja a obtenção da paz o mais rapidamente possível para o povo ucraniano e russo e continuará a utilizar a sua voz e a sua visibilidade para esse fim, ou outras causas que lhe pareçam justas, sempre que assim entender”.
Durante o concerto, disponível na íntegra na plataforma Youtube, Pedro Abrunhosa falou sobre a guerra na Ucrânia, antes de começar a cantar o tema “Talvez Foder”, no qual aborda questões como a guerra, a fome e o fascismo.
“Não podemos, nem vamos esquecer, que a Europa vive uma guerra. E a guerra mais estúpida de todas, uma guerra perfeitamente evitável, uma guerra de ódios, uma guerra em que famílias como as nossas todos os dias têm que fugir”, afirmou na altura.
O músico lembrou que também “há quem não fuja, e numa ilha da Ucrânia um marinheiro respondeu a um apelo de um barco russo dizendo: ‘Barco russo, go fuck yourself’, que é como quem diz ‘russian boat …’, que é como quem diz ‘Vladimir Putin, go fuck yourself'”.
“Este grito hoje tem que se ouvir em Moscovo e em Kiev”, disse em palco.
A embaixada russa, no comunicado, faz saber que as palavras do músico português, “indignas do homem de cultura que ainda por cima representa o país, que está a se manifestar abertamente contra qualquer tipo de ódio e discriminação, foram ouvidas” e que “as respetivas conclusões serão tiradas”.
Pedro Abrunhosa e a Sons em Trânsito consideram que a embaixada quis dizer que a voz do artista “se ouviu nos corredores do poder russo e que as autoridades daquele país ficarão atentas às atividades do músico”.