Nem tudo mexe…mas tudo tem a sua vida!
É uma afirmação aparentemente contraditória, mas garanto que tudo aquilo de que nos vamos cercando durante a nossa caminhada pelas veredas da vida, tendo como tem uma uma história, tem também vida; só é preciso que haja quem a conheça e a recorde.
Cada peça que juntámos à colecção da nossa vida, que é única e irrepetível, foi comprada ou obtida num sítio e data de que nos recordamos perfeitamente, mesmo que dezenas de anos tenham passado sobre esse facto.
Algumas entraram na colecção num dia particular, como prenda de anos por exemplo, como recordação duma viagem, até como resultado dum simples desejo de ocasião; a verdade é que nós sabemos exactamente quem nos deu, quantos anos tínhamos, quando tal aconteceu, onde foi e porque foi que a adquirimos.
Quando a paciência nos ajuda a tirar o pó do tempo dessas peças, a estranha memória que acabo de referir, surge, viva e pressionante, como se os anos não tivessem passado, dando lugar a expressões como as que a seguir refiro, patéticas para todos aqueles a quem as peças nada dizem:
“comprei esta jarra naquela Ilha Grega, em 54…chovia naquela manhã…”; e a jarra, de repente, volta à sua Ilha.
“Olha a minha caneta de tinta permanente … prenda do tio Luís quando fiz 15 anos…”; e por milagre, a caneta começa a escrever, com aquela tinta azul-clara, de que tanto gostávamos…
“Este livro era o mais vendido do Mundo; comprámo-lo na terra em que foi escrito em 61; é uma primeira edição…”; e o Livro de S. Michele, volta a abrir as suas páginas, com um sorriso agradecido do Axel Munthe, seu autor…”
De salto em salto, de memória em memória tudo volta a ter vida.
E essa vida flui, porque a sentimos, porque a vivemos, porque a sofremos ou amámos, com sorrisos ou tristezas, desejos e ocasiões, que são a única razão de ser das tais coisas que se amontoam à nossa volta.
Recordar não é só viver: é também acordar e dar vida; quando o esquecimento rouba a história que as coisas têm, tira a vida aquilo que foi a essência doutras vidas…
Os objectos não falam senão com quem os juntou, os usou e os sentiu, lhes deu razão de ser; e ter razão de ser, é afinal a principal premissa para que haja vida…
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“Eternas recordações para uns,
são efémero Lixo para outros…