Há coisas do tempo que passou, que se não esquecem nunca; aqui vos trago hoje mais um exemplo.
Quem se não lembra daquele prato saboroso, que a saudosa avozinha tão bem fazia, e que nos ficou para sempre na memória e no desejo;
podia até ser coisa simples, tanto quanto uns ovos escalfados com ervilhas, mas deixou lembrança pelo seu gosto especial, gosto que derivava da experiência de quem o confecionava e do fogão a lenha onde era então feito.
Sempre com o tempero do amor e do carinho, que ela sabia pôr em tudo o que fazia, feliz por poder servir os outros;
Contribuía também para esse o gosto o sabor único das primícias da horta, da qual a cozinheira igualmente cuidava com desvelo, ali mesmo no seu quintal; e o que dizer daquelas maçãs Bravo de Esmolfe, que ela própria apanhava da macieira que o seu pai tinha plantada há dezenas de anos atrás, e para as quais fazia um molho divinal com o mel da colmeia, meia escondida entre as flores, lá no fundo do tal quintal?
Pois é, há coisas do antigamente que se não podem repetir, mas lá esquecer não esquecem.
Só não se valorizou como devia, o trabalho dessa “dona de casa”, como então se chamava, um trabalho duro, repetitivo, absorvente, cansativo, mal valorizado, entendido como se duma obrigação se tratasse.
É verdade que os obrigatórios elogios, ou os acenos de aprovação feitos à “fada cozinheira”, aconchegavam, mas tenho consciência, de que não compensavam nem pouco, o muito esforço despendido.
No meu tempo, à mulher não bastava ter os filhos e ser o eixo do seu crescimento, cabia também fazer o resto.
Porquê? Porque era uma injusta verdade da sociedade da época, uma mal disfarçada escravidão, que só uma infinita dedicação, uma superior capacidade, e um terno e elevado sentido de missão, faziam aceitar.
Será que hoje, ainda que de forma mais mitigada ou disfarçada, não acontece ainda o mesmo?
Oxalá não; digo eu…
Vejam até onde nos levou a conversa sobre o meu tempo…e os tais ovos escalfados com ervilhas!
Pensamento da semana: assim pensei, e aqui o digo:
Não foi por acaso, que coube à mulher ter os filhos. Quem o decidiu, pensou certamente, que o homem não aguentaria…