O uso da memória era, no meu tempo, uma técnica e uma prática, indispensáveis à acumulação de conhecimento, tanto nas carteiras da escola, quanto nas cadeiras da vida.
Quando se passava por uma escola primária, não era raro ouvir a cantilena que servia de apoio à aprendizagem da tabuada: “ 2+2 = 4: 4+4=8 …e por aí adiante, tudo em coro bem sonoro, facilitador inegável da memória;
e não há quem, tendo passado por isso, não saiba ainda hoje a resposta; mas hoje, é notório o embaraço das novas gerações, em fazer contas de cabeça, já que para tal, se habituaram a usar a máquina de calcular, que nós inventámos mas não tínhamos, e até já o fazem já no ubíquo telemóvel, numa simples aplicação para esse efeito.
Na história, as datas e acontecimentos ficavam na memória, devidamente alinhados, prontos a dizer de cor.
Não era raro também que todos soubessem que “O amor é fogo que arde sem se ver, e ferida que dói e não se sente… recitando facilmente, o belíssimo poema dum Camões lírico, que por sorte, existiu na literatura portuguesa; existiu, como existe ainda, vivo e amado, na memória de quem o decorou emocionado.
A memória em causa, lendária faculdade do homem, agora perde, frente à capacidade dum disco rígido de alta velocidade, que dá “memória” a quem a não tenha, por preguiça ou desprezo, ou não a queira utilizar.
Essa memória do meu tempo, perdia-se com a idade, por falta de exercício, e duma forma curiosa: quando solicitada, falhava nos acontecimentos próximos, para desespero do dono, mas respondia, pronta e clara, a tudo aquilo que estava longe…lá nos confins do começo…
Pelo andar da carruagem, qualquer dia não responderá, nem a uns, nem a outros…
E este é o meu pensamento da semana:
Cada um tem a sua história.
Cada história uma memória.
Entre a história e a memória fica a vida.