Desde logo vos digo que o tempo é guardião das coisas, e nesse âmbito, só passa se nós quisermos que passe.
É difícil viver num Mundo que não entendemos, simplesmente porque na nossa memória pregressa, persiste em estar no Mundo em que nos forjámos. As verdades, os princípios, as mentiras também, a forma de ser e de não ser, fazem parte desse acervo pessoal, que aceita ser acrescentado, até retocado, mas nunca se deixa apagar.
Esse “Nosso mundo” adquire-se no decorrer duma vida, mas forma-se com maior solidez durante a adolescência, porque é aí, que ao que vemos se junta o que aprendemos, ao que pensamos se opõe o que os outros pensam, e porque é aí também que começamos a ter a nossa opinião, a escolher os nossos caminhos, a formar o nosso gosto, a selecionar as convivências pelas afinidades comuns, e a ter histórias para contar…
Vem depois outro espaço que aprofunda e solidifica esse mundo interior, o do tempo a dois, que se sobrepõe ao tempo com todos, onde se aprende não só a partilhar, mas a tolerar, e a dividir a vez; é o tempo de “servir quem vence, o vencedor”, como Camões diria, em que se retoca e completa o normativo dum Mundo Nosso, o tal a que me refiro..
Por curiosidade, é igualmente nesse tempo a dois, que se garante a continuidade da espécie, e, portanto, se dá semente a um Mundo Novo, que será criado por quem chegar, e que a seu tempo, contestará o Nosso.
De forma Imperial e imparável, o Novo Tempo, feito do tal tempo que não para, fabricará novas ideias, rasgará horizontes imprevisíveis, porá em causa preceitos, negará conceitos, e moldará uma nova geração.
O tempo que passou o Nosso, começa assim a ceder o seu lugar ao tempo que temos ainda que passar, já céticos ou amargurados; as nossas objeções ou leituras, aquilo que achamos insensato, onírico ou anti natura, com base claro no moribundo Mundo Nosso, têm por resposta maliciosos sorrisos, ou expressos e comentários, sobre a nossa visível pequenez de vistas, de peças fora de moda, quando não até, de atraso mental!
Mas um dia, serão eles próprios a enfrentar essa eterna disputa, entre o tempo que passou e os forjou, e o tempo que irá passar; mas tal como nós, lá terão de
tolerar sem remissão, mas com visível apreensão… um Novo Mundo que já não será o Seu…
Aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“No tempo que passa está sempre o tempo
que já passou…”