Para muitos dos que vão lendo estas incursões no tempo de antigamente, a palavra Telegrama não significa grande coisa, já que o dito telegrama deixou de estar em uso há dezenas de anos; mas já foi o mais rápido meio de comunicação disponível, na minha e noutras gerações; vale a pena falar sobre ele.
A transmissão sem fios, (TSF), teve o seu começo no século IXX; Um transmissor emitia um sinal eléctrico, que era captado, sob a forma dum som contínuo, por um recetor na mesma frequência; um inventor de nome Samuel Morse, teve a ideia de interromper esse sinal continuo, transformando-o em dois sons de duração diferente; ao mais curto chamou-lhe ponto (di) e ao segundo ,o mais longo, deu o nome de traço (dá); para obter esse efeito, criou um interruptor manual, a Chave Morse, que permitia a um operador gerar uma série de pontos ou de traços, que representavam cada letra ou número do alfabeto corrente, criando assim um novo alfabeto apenas de pontos e de traços sonoros. Ouvir esses sons, permitia ao operador convertê-los em texto.
A esse alfabeto se passou a chamar “O código Morse”; cada letra e cada número tinham os seus pontos e os seus traços; a letra A era representada por um ponto e um traço ( .-); o E, outro exemplo, apenas por um ponto (. ). Parece difícil fixá-lo, o que também a mim pareceu quando o aprendi, mas com o treino, até sem escrever se descodificava, pela “música” dos pontos e dos traços, as palavras transmitidas, letra a letra.
Com o código Morse nasceu uma nova profissão, bem paga, a de Radiotelegrafista, aquele que emitia ou captava os traços e os pontos, e os transformava em texto comum; e o Mundo, esse, ganhou assim a primeira forma de comunicação à distância, eficiente, imediata e segura.
É preciso dizer que ainda não era possível transmitir a voz humana; a comunicação áudio, ou fonia, que deu lugar à Radiodifusão, não tinha ainda nascido…mas estava perto.
Entre os serviços de comunicação telegráfica, que entraram em força nos primeiros anos do século XX, estava o envio de mensagens escritas, curtas, a que as operadoras de Correio, chamavam Telegamas, que podiam ser enviadas para todo o mundo, e no mesmo dia serem entregues ao destinatário por um estafeta; a mensagem passava pelas mãos do radiotelegrafista no local de origem, que a transmitia no alfabeto Morse, e era descodificada do outro lado, pelo ouvido do seu colega, ou, mais tarde, por um impressor de fita de papel, continua, que registava os pontos e os traços recebidos, para posterior descodificação, sendo a mensagem escrita num impresso próprio, e nele o Telegrama era entregue.
Não era um serviço barato, mas mesmo assim, muito usado para assumptos urgentes ou significativos, sendo recebido sempre com agrado, e com apreensão, porque carreava as boas e as más notícias.
O Telegrama perdeu força com o advento do telefone, e morreu com a chegada das novas tecnologias, mas viveu dezenas de anos como um recurso comunicativo de valor inestimável. A chegada dum Telegrama era sempre um acontecimento!
Termino dizendo, talvez para espanto vosso, que a transmissão telegráfica por alfabeto Morse ainda existe, em locais de difícil propagação, pelo seu elevado poder de penetração. Acrescento ainda, que a telegrafia foi o meio mais usado pelos espiões de ambos os lados, nas duas grandes guerras, como o melhor meio de cumprimento da sua arriscada missão.
E, para não me esquecer do código Morse, que na verdade, uma vez aprendido parece ficar por vida, me despeço hoje desta forma original:
.- – . (Até) .- (à) .–. .-. — -..- .. — .- (Próxima!) !
Coisas do antigamente… onde afinal assenta o nosso presente!
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
Quem transmite tem de ter sempre quem receba…