“O que é doce, nunca amargou”

Gostava a minha avó, que nasceu em Lisboa, mas era da província, de manter bem viva a maneira de falar dos Montes Hermínios. E, vai que não vai, metia na conversa uma expressão popular, o que muito me agradava, já que as não conhecia, por nunca as ter ouvido no dia a dia, e por muito apreciar a simplicidade com que tais expressões eram construídas e a inegável verdade que todas continham.

Lembrei-me desta na época que agora passou, por ser óbvio que é durante o Natal e o Ano novo que o doce e nunca amargou, salta para a mesa sem pedir licença, e, entre comer e não comer, “Morra Marta mas de barriga farta!”

A profusão é de tal ordem que nem se sabe por onde começar. E, na oferta, há nomes que só ouvimos ou relembramos em épocas especiais, nomes que “fazem crescer água na boca”, como estes:

Coscorões, Fatias Paridas, Azevias, Bolo Rei e também Raínha, Sonhos, Mimos de Gila, Broas de mel, Fios de Ovos, O bolo da Rosa (Sintra), Queijadas, Bolo Preto da Madeira, a Queijadinhas da D. Amélia, Bolinhos do Amor, Bolo de Canela e Erva doce, Broa Castelar, Lampreia de Ovos, Tronco de Natal, Rabanadas, Filhós, Aletria, Arroz doce com ou sem canela , Bolo de Bolacha, Abade de Priscos, Dom Rodrigo, e até a “Loucura completa”, que é uma conjugação dos três doces, com o mais elevado teor de açúcar…

E isto só para mencionar alguns, pois a lista é infindável…

Quem come, diz que uma vez não faz mal, mas nunca conta as vezes…

O que vale é que esta montanha de doçaria só está disponível nesta profusão e ao mesmo tempo, uma vez por ano, sem o que lá iria para a desgraça, a elegância da mulher portuguesa, que tanto eu elogio, desde que escrevo e a descrevo…

Acabou amigas, agora só para o ano; toca lá a fazer dieta Meninas!

Meninas e meninos …porque a barriga a saltar do cinto não fica bem a ninguém!

Sendo o assunto doce, não o é tanto assim o meu pensamento:

O doce e o amargo, passeiam na vida de braço dado…