Quando um pai passa à qualidade de pai da noiva e leva a filha ao altar fecha-se um ciclo, é como se terminasse uma parte da sua missão cá nesta terra e findasse um tempo de responsabilidades maiores para com a prole.
Embora sendo laico, é com emoção a raiar a lágrima o momento em que se pisa o primeiro degrau da igreja católica, apostólica, romana num crescendo de emoções a cada passo que se se avança, parecendo que se revive em fugazes instantes a história da sua menina.
Mesmo que não se acredite no rito, na religião, nem nas ladainhas, quando se percorre ao som dos acordes nupciais passo a passo templo adentro de braço dado com a filha rumo ao futuro genro e aos padres que desesperam pelo atraso da cerimónia, faz-se um nó na garganta e não é o da gravata.
O importante na hora não é a fé do progenitor, se a tiver, nem as suas crenças, que certamente terá, mas sim a dos noivos que foram quem afinal escolheu aquela tão tradicional fórmula da nossa secular cultura, pelo que ao pai não lhe resta mais do que respeitar o espirito santo optado pela filha e dizer ámen, melhor, um profano, assim seja.
Por muito que se tente manter uma atitude distante, fria e racional, a semana do casamento de uma filha, tanto pior se for filha única, é preenchido com um nervosismo miudinho que começa alguns dias antes.
Até ganhar dimensões borbulhantes nas horas que antecedem o grande evento, que impedem inclusive o repouso do sono pela ansiedade de que tudo corra bem e decorra como previsto de modo a não defraudar nem os convidados nem as expectativas dos nubentes para tão ansiada jornada.
Quer a religiosa na igreja para os crentes quer a profana de comes e bebes para crentes e descrentes.
Sim, porque depois do altar há, claro está, a boda ou o copo de água, como se dizia antigamente, onde logo nas entradas se descarrega a adrenalina em flutes de champanhe de frutos silvestres, ou em outro líquido alcoólico qualquer, e se recebem de grupo em grupo os convidados em prazerosa e social alegria de muitos e amigáveis sorrisos e conversas soltas, livres de ocasião.
Em tempos de guerra como aqueles que infelizmente atravessamos, parece quase uma heresia gastar dinheiro com festas, brindar e ser feliz.
Mas, a vida tem de continuar. Vivam os noivos!