O meu ofício agora, é pensar.
Não estranhem, portanto, que de vez em quando comece esta conversa dizendo, só por dizer:
“Dei comigo a pensar” como é paciente a Natureza, que espera que a chuva caia quando o entenda, para então matar a sede, e encher os campos de verde, e neles pôr as flores, das mais modestas às garbosas. cujo infinito colorido dá aos pintores o mote, e aos olhos o tranquilizante conforto da diversidade.
Abrem-se os ramos lentamente, sem pressas, para darem a sombra que vai ser precisa. Não há novidades, tudo se renova, depois do sono forçado, sofrido o frio, e poupada a seiva, para preparar nova espera, sem um grito, nem um impropério, nem manifestação de desagrado, com perfeita aceitação do seu destino.
Com a côr vem o perfume, tantas vezes imitado e nunca conseguido, perfume que o vento no seu capricho leva aos destinos que ele próprio determina, chamando as operárias do mel ao trabalho; tudo é feito a seu tempo, nada por antecipação, já que aquilo que se sobrepõe, perde o sabor e o desenho original.
A Natureza sabe ao que vem e o que a espera, e nesta metade da esfera, guarda para Maio essa milagrosa pintura, não antes nem depois, igual e diferente em cada ciclo.
Paciente e sábia, tem também a virtude de ser discreta e silenciosa. Que bata palmas quem veja!
Atitude diferente tem o homem, que quer ser adulto antes de ser criança, que tudo deseja por antecipação, e que pragueja quando o não tem.
O mesmo homem que a todo o espaço lastima ser curta a vida, e que é quem afinal a acelera… para a gastar… sem degustar.
O homem que não sabe esperar, é o mais comum dos seres humanos. Os que esperam, são os que não têm outro remédio…
Desculpem se estou do lado da Natureza; se aponto a sua tranquilidade, admiro também as suas fúrias, habituado, como desde pequeno estive a contar o tempo para saber, após cada trovão, a que distância estava a tempestade…
No lado Humano, quantas vezes essa tempestade não tem tempo, nem distancia nem sentido, nem momento próprio. Por isso, desgraçadamente traz consigo, o negro como côr preferencial, e faz do cheiro da pólvora o seu perfume mais comum. E o Homem, bem o sabemos, quantas qualidades tem para mostrar.
Mas tudo quer fora do tempo.
E se dá importância ao tempo, faz, quantas vezes, o tempo não ter importância.
Talvez por isso me tenha eu refugiado hoje no Mês das flôres, tempo das côres, do respirar profundo, e do intenso perfume, que, como disse, chama ao trabalho as operárias do mel…
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“Há perfume e beleza na vida; procure, e vai encontrar… “