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Monteiro Cardita
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O mais horrível espetáculo humano

A cada hora que passa aumenta mais e mais a sensação de que não tarda a III Guerra Mundial e estará mesmo para breve o seu início.

Depois das ameaças sem fim, das iradas palavras carregadas de belicismo, num crescendo de vómitos guerreiros, o tom vem-se elevando no ar faltando apenas o disparo do primeiro míssil nuclear ou o lançamento do primeiro ataque químico ou biológico para se cumprir a sétima extinção em massa.

Em mais este conflito cruel, impiedoso e desumano a decorrer de novo nos campos europeus, há um rasto de sangue que nos leva diretos até aos criminosos da estepe russa, apesar das narrativas proferidas ao contrário como se se tratasse apenas de uma dramática história humana refletida em espelhos convexos.

Estropiados, mutilados, desfigurados, esgotados, queimados, esfrangalhados pelo stress de guerra, aos imberbes combatentes sem nenhum treino foi-lhes imposto à força um futuro de pesadelo e negada a vida que um dia ambicionaram nos seus sonhos.

Assim é em todas as guerras. Assim forçosamente terá de ser nesta também em que besta se soltou devorando tudo em redor.

Os civis, a eterna vitima inocente, são aqueles que mais padecem com todas as dores inimagináveis sem que nenhum antídoto seja capaz de repor a casa destruída, trazer à vida o amigo morto, consolar a mulher violada, ressuscitar o filho assassinado, voltar a beijar os pais desaparecidos numa vala comum.

Cá ao longe são bem audíveis nas nossas almas os silenciosos lamentos das lágrimas incontidas dos que sofrem em carne viva os horrores das matanças.

A guerra é o mais horrível de todos os espetáculos, mas há quem dela retire um prazer mórbido semelhante ao dos sádicos que no sofrimento dos seus semelhantes encontram o prazer da vida, e na luxúria do sangue derramado a lascívia carnal do seu máximo deleite.

O fim da civilização e da espécie podem estar para daqui a pouco, mas que importa isso perante o orgulho, a vanglória, a jactância e o regozijo alarve daqueles para quem o império e o domínio são as mais importantes realizações a conseguir nesta breve vida.

Com o planeta climaticamente a estrebuchar todos os dias, nada mais lógico e racional do que em vez de colocar as ciências a tentar encontrar soluções para tão grave problema, o melhor parece, pois, ser antecipar um fim quase anunciado e avançar logo para o extermínio total por via de uma guerra em que todos pereçam e ninguém se fique a rir.

É uma enorme tristeza constatar que a inteligência está a ser colocada ao lado da destruição em vez de ser posta ao serviço da salvação.

No entanto, as nossas vidas levam para já seu curso normal. Não fora a escalada inflacionária e a tensão verbal com que nos enchem televisões, rádios, jornais e redes sociais, dir-se-ia até que a ocidente, como habitualmente, nada de novo.

Não nos enganemos. Esta guerra tem um tal potencial destruidor do qual ninguém porventura sairá vivo. Resta-nos ir vivendo os dias felizes, de preferência regado com bom vinho, e fazer como os jogadores de xadrez da ode de Ricardo Reis.

 

Créditos Imagem:

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