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“Magusto da Velha, uma pitança pelo bem da alma”, de Daniel Martins, revela quem é a ‘velha’

O “Magusto da Velha” há mais de 300 anos

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

Aldeia revela nome da ‘velha’ que oferece magusto há mais de 300 anos

Há mais de 326 anos que, no dia a seguir ao Natal, a localidade de Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda, cumpre religiosamente o “Magusto da Velha”, cuja identidade era desconhecida até agora.
Quem quiser saber o nome da ‘velha’ tem de ler o livro “Magusto da Velha, uma pitança pelo bem da alma”, de Daniel Martins onde não só se revela o segredo do nome como se explica o porquê desta tradição existir nesta aldeia do concelho.

Reza a lenda que uma mulher muito abastada e proprietária da grande “Quinta do Lagar de Azeite”, na então povoação de Santa Maria de Porco — hoje Aldeia Viçosa –, deixou um testamento à igreja local em que mandava distribuir castanhas — o alimento principal à época — e vinho aos habitantes. Em troca, estes tinham que rezar “um Padre-Nosso” pela sua alma.

A tradição é mencionada no ‘Livro de Usos e Costumes da Igreja do Lugar de Porco’, de 1698, do padre António Meireles, que descreve este hábito e situa a sua origem na Idade Média.

Já o testamento garante anualmente à Junta de Freguesia uma renda perpétua de poucos cêntimos, depositada pelo Instituto de Gestão do Crédito Público na conta bancária da freguesia.

“É muito pouco, mas tem enorme valor simbólico”, realça Luís Prata, presidente da Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa, em declarações à agência Lusa.

Mais de três séculos depois, o mistério vai ser desvendado com a edição do livro ‘Magusto da Velha — Uma Pitança pela Boa Alma’, de Daniel Martins, que será apresentado na quinta-feira, pelas 17:30, depois do lançamento das castanhas da torre da igreja e da missa pela alma da benemérita.

“O livro tem muitas pistas e dados sobre as origens e família da benemérita, com base numa investigação do historiador Daniel Martins, da Associação Hereditas, que consultou dezenas de documentos originais e cópias, sendo que o mais antigo data do século XIII”, adianta o autarca.

O autor também se socorreu de uma investigação de 2008, de José Manuel Coutinho, historiador natural de Aldeia Viçosa, já falecido, que escreveu o livro ‘O magusto — por obrigação e devoção’, onde avançava com 17 possibilidades de nomes para a “Velha”.

Na quinta-feira, dia 26, foi também revelada “a casa onde a benemérita viveu. Um dia verdadeiramente especial, em que viajaremos até às origens da nossa ‘Velha’ e vamos conhecer a sua história”, acrescenta Luís Prata.

Para o presidente da Junta, o ‘Magusto da Velha’ é “um evento único no mundo” e, “mais do que uma lenda, é um acontecimento marcante na nossa comunidade”.

Na tarde de 26 de dezembro, depois da missa pela alma da ‘velha’, foram lançados 150 quilos de castanhas da torre da igreja. O cerimonial teve hora marcada (15h30) e um costume mais recente associado — as ‘cavaladas’, em que quem se baixar para apanhar castanhas no adro da igreja fica sujeito a que lhe saltem para as costas.

A Junta ofereceu ainda 50 litros de vinho, da Quinta do Ministro, e tibórnias — pão torrado embebido em azeite. Ultimamente há também espaço para uma encenação teatral à volta do testamento, pelo Grupo Hereditas.

Ao fim do dia inaugurou-se a exposição de fotografia ‘Territórios de Altitude’, de Filipe Patrocínio.

A Junta de Freguesia de Aldeia Viçosa pretende inscrever o ‘Magusto da Velha’ no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

Por LUSA

Créditos Imagem:

Câmara Municipal da Guarda/Instagram

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