O homem considera-se o dono do planeta azul, onde nasceu sim, mas com outros animais; também se julga o mais inteligente dos seres vivos, e por tal foi roubando espaço e ambiente aos seus parceiros, e para seu próprio prazer, até se entreteve a domesticar alguns deles, no intuito de lhe servirem de companhia, ou quiçá desempenharem tarefas que lhe fossem úteis.

Apesar desse tão enraizado convencimento da sua superioridade, é dos outros animais que recebe o Homem todos os dias, lições de suprema dignidade, na forma como eles, por exemplo encaram a morte e a doença, sofrendo em silêncio; e que dizer da incrível tolerância que demonstram, quando respondem com amor a quem os maltrata ou abandona?

Aos animais selvagens, a esses, acantona o homem em espaços cada vez mais exíguos, que limitam o simples exercício da sua sobrevivência, condenando-os sem justa causa, a desaparecer; o autoproclamado vencedor, até já quer para além do referido planeta onde vive, o que mais exista no resto da sua galáxia, para lhe fazer o mesmo, conquistar e destruir.

Mas os animais que vão escapando a sua gula, não desistem de a cada momento dar ao homem, silenciosamente, a sua lição de fraternidade.
À porta do hospital para onde entrou o seu dono, um cão espera o seu regresso, passando fome, sede e frio, e o lá ficará o tempo que for preciso, para nos dizer que o agradecimento, a amizade, a fidelidade, e até o amor, não são palavras vãs.

Não arredará pata do sítio em que o perdeu, o cão que está à porta do hospital, até ver regressar o seu amigo, por sinal, aquele, ele mesmo, e somente por gosto próprio, até lhe cortou a cauda, instrumento primário da sua forma de se expressar e agradecer.
De que lado está afinal a inteligência?

Do que desbarata o tempo acumulando efémeras vitórias materiais, ou daquele que usa o espaço curto da sua vida, para não perder o que tem, dando o que pode, em ternura, amor, dedicação, esperança e até o dom da tal presença, que só quem a não a tem sabe o que vale?
Agora que estou velho, já sei a resposta. Tarde de mais, como sempre é… para todos.
E aqui fica o meu pensamento da semana:
Será o homem tão amigo do cão, quanto cão é dele?
A resposta pode ser surpreendente…