Volto ao continente africano, onde há sempre histórias interessantes para contar, histórias de imaginação e sobrevivência, que se tornaram soluções incríveis e duraram décadas.
Desta vez venho contar-vos como no meio do século passado se atravessavam lá os rios , quando não havia ponte. Era comum usar-se uma plataforma flutuante a que se chamava “batelão”, com a capacidade de flutuação ajustada ao peso do veículo ou da a carga desejada.
Era a plataforma provida lateralmente, à esquerda e à direita, de dois cabos de aço, que mergulhavam no rio, e que eram solidamente fixados nas respetivas margens.
Passavam os cabos sobre rodízios fixados nas amuras da plataforma, à altura dum metro; ao serem puxados faziam navegar o batelão no sentido desejado.
Nada de mais engenhoso e simples; o único motor era esse, o braço humano, que em grupo disciplinado, cadenciadamente puxava o batelão para um ou para o outro lado do rio.
A viagem não seria rápida, mas era segura e bem alegre, já que a equipa, para ajudar ao ritmo e ao esforço, cantava batucando com os pés, com o amor e a alma que o povo de Africa tem pela música e pela dança, que vos garanto, é único.
Cada grupo tinha a sua canção, e quantas eram! mas de uma me lembro que fez época e por muito tempo: “Elisa gomara a saia”.
Milhares de vezes assim se atravessaram rios de beleza inigualável, até o tempo ditar o domínio do cimento sobre as coisas simples da vida. A quem teve a sorte de ter usado um batelão, jamais o apagará da sua memória.
Mas o romantismo e o progresso, nem sempre se deram muito bem… Pois hoje, andámos de batelão.
E este é o meu pensamento da semana:
“Os rios são as veias da natureza; …”