Figura inesquecível e indispensável, era no meu tempo o barbeiro.
No meio do século XX, prezava-se muito ter a barba bem “escanhoada”, palavra então muito usada, mas hoje desaparecida; ir ao barbeiro para fazer a barba, era frequente e quase obrigatório.
Cada bairro tinha uma ou várias barbearias, com mais ou menos cadeiras; cada cadeira tinha o seu “oficial”, que com mestria manejava ferramentas simples: a tesoura, o pente, a navalha, o espelho e a escova; máquina só usava a de desbastar o cabelo, e mesmo essa era manual, já que ao tempo não havia outras.
A barbearia era um Local de serviço iminentemente masculino, e a única figura feminina era a “manicure”, já que azia parte da boa apresentação pessoal, andar com as unhas cortadas a preceito, havendo até quem as pintasse, com verniz incolor e transparente.
Na barbearia, a barba era feita à navalha, navalha que o barbeiro afiava frequentemente, numa tira de couro própria para o efeito; a dita navalha tinha de ser usada com habilidade e cuidado, para não causar nenhum corte indesejado na pele do cliente, pele que ficava macia, como era requerido.
Quando se gostava do trabalho, não raro era o cliente manter o mesmo barbeiro por toda a vida.
A barbearia era também o local onde então se sabiam as notícias, já que cada cliente contava a sua e o barbeiro ficava a saber todas, passando-as logo ao próximo freguês, o que mais aproximava o barbeiro do cliente.
A televisão era ainda uma miragem…
Ao barbeiro se chamava nesse ao tempo “O Fígaro”, calculam claro porquê, ou mais comummente “O Baeta”, e neste caso, nem sei dizer-vos por que razão. A manicura passava com o seu banquinho para o lado de cada cadeira, quando solicitada, e sempre com um sorriso nos lábios. Por graça vos digo que o corte e a barba andavam por dez escudos, (€: 0.05), na Lisboa dos anos 50. Pois era…
Lá por volta da década de 70, a tão icónica barbearia, acabou por desparecer com enorme rapidez, nas grandes cidades, cilindrada pela moda do cabelo comprido e da barba ao natural, e o aparecimento da máquina de barbear elétrica e portátil, sendo substituída pelo “Cabeleireiro para homens”, que já não oferecia serviço de barba, e que hoje é o Cabeleireiro Geral, mais atento à moda e uni sexo.
E “Fígaro” só ficou só o da Ópera, já que os outros passaram a cabeleireiros, cuidando apenas do cabelo.
Julgava eu que nunca mais o tempo voltaria para trás, e eis senão quando, para meu espanto e de muita gente, e com o nome genérico de “Barbearias” começaram a surgir por cá, estabelecimentos que replicam, não só a imagem do passado, mas repõem o serviço anterior, fazendo barba cabelo e unhas, já sem a navalha de afiar, mas com moderna ferramenta de aparar e barbear, rápida e eficaz, que contenta, assim parece, quem volta desta forma ao “barbeiro”…
E lá fui eu, curioso, para relembrar; e até gostei, saudoso embora do “Baeta” do meu tempo, da notícia fresquinha com todos os pormenores, e da tal amizade por vida.
E se calhar também, do sorriso natural e não forçado, da “menina das unhas” …
O meu pensamento da semana aqui fica:
- MAIS CABELO, MENOS CABELO, A CABEÇA, ESSA NÃO MUDA, PARA O BEM E PARA O MAL… !