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Monteiro Cardita
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O bailinho da aldeia

Nada já é como antigamente, nem mesmo o bailinho da aldeia.

Lá atrás no tempo, toda a gente do lugar e dos montes em redor ansiava pela noite em que faziam o jeito a pé e namoriscavam no terreiro enquanto dançavam nos braços do respetivo amor com enleio.

O adro do baile costumava carregar-se de muita e variada gente assim disposta, dum lado os homens de cerveja na mão, e do outro as mulheres quase sempre acompanhada pela mãe ou por uma tia a quem se juntavam as primas, todas em guarda.

 

Mas o baile a que assisti este ano parecia outra coisa qualquer. No palco havia um acordeonista que não desmerecia sem encantar no seu dedilhar pelo teclado acima e abaixo, abrindo e fechando, no entanto, o fole do instrumento com força e ímpeto.

Foram poucas dezenas de pessoas as que cumpriram a tradição estival, a maior parte já grisalhas ou muito imberbes ainda.

Já os adolescentes escolheram juntar-se em grupos e percorrer as ruas da aldeia em ruidosas conversas, mas não se juntaram à dança do parque de estacionamento automóvel convertido em salão de baile, que era sobretudo praticada por pares de mulheres e por crianças da primária, com os homens a preferirem ficar de cerveja na mão à margem da animação.

Como habitualmente não faltaram as barrraquinhas das pataniscas, das febras, do chouriço e do frango assados, nem as das imperiais fresquinhas. Marcou também presença a carrinha das farturas e a tenda da quermesse onde se compram papelinhos de beneficência enroladas que depois de abertos dão direito a um simbólico prémio ou não.

Mas o evento, por mais pobre que tenha tornado, tanto em quantidade como em qualidade e diversidade, continua a ser um momento de convívio, de reencontro social e até de família mais distante, dos primos e das primas que se não vêm senão de longe a longe, e que aproveitam a ocasião para pôr a conversa em dia, que hoje em dia versa sobretudo a graça dos netos ou a desgraça das doenças.

Dei a volta ao perímetro e dei comigo a pensar que apesar de tudo mais valia um acordeonista a dar-nos música do que um qualquer músico pimba em seu lugar, mas, se a opção tivesse recaído na contratação de um cantores ‘pimba’, talvez tivesses sido maior a adesão ao bailinho deste verão.

Créditos Imagem:

@Unsplash

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