
Fiquei órfão de pai aos 11 anos de idade. Num acidente estúpido como são todos os acidentes de carro. Felizmente sobreviveu a minha mãe, não sem antes passar largos meses no hospital.
Foram dias de luto, anos penosos, difíceis para quem cultivava uma relação cúmplice de adolescente com o progenitor. Drama que só bem mais tarde consegui ultrapassar.
Nos dias do pai em cada ano não consigo deixar de sentir uma grande tristeza por não o ter tido comigo mais tempo na minha vida.
Nas circunstâncias trágicas em que esse período ocorreu recordo as suas últimas palavras de despedida: não tenhas medo filho, que nós voltamos amanhã. A verdade, é que não voltaram no dia seguinte. Nem no outro, nem no outro sequer. O meu pai não voltou nunca mais. E tudo se desmoronou à minha volta.

Não tive medo, mas percebi bem desde então o valor do efémero.
Na verdade, por uma razão ou por outra, quase todos os me lembro do meu pai volvidos quase 50 anos, e a minha mãe então não se passa dia nenhum em que não pense nela.
Nós, os órfãos, desenvolvemos defesas para não sofrermos tanto, que não se expliquem, apenas se sentem a cada um dos dias que passa. Sempre a verter invisíveis lágrimas no coração nunca sarado da dor. A saudade não se extingue nunca.