No meu tempo os pais não levavam os filhos à escola;
alguns o faziam no primeiro dia de aulas, mas para lhes ensinarem o caminho; a partir daí, era com eles.
E não me lembro que alguém se tenha perdido.
Havia em cada bairro uma escola primária para o ensino público e outra privada, para escolha de quem queria e podia.
No meu caso ficavam ida e volta, cerca de 2 quilómetros, feitos alegremente a pé.
Também dou conta, que no meu tempo não havia príncipes nem princesas, muito menos superdotados ou hiperativos;
éramos todos miúdos comuns;
que me recorde, nenhum, e éramos centenas, precisou de psicólogo.
Quando cheguei ao Liceu, como morava numa das pontas da cidade e só havia um instituto oficial, que ficava precisamente na ponta oposta aquela em que habitava, só me restavam duas alternativas: ir de bicicleta, ou apanhar dois autocarros; ida e volta eram 11 quilómetros, pelas ruas da bela cidade em que então vivia.
Foi a bicicleta a escolhida, deixando para os dias de chuva o uso do transporte público; e isso, durante sete longos anos. Também me não perdi, e ganhei em troca uma saudável massa muscular, que ainda hoje me faz bom jeito. Rapazes e raparigas como eu, assim fizeram também, sozinhos.
Com isso todos beneficiámos, para além do mencionado exercício físico, duma inegável autossuficiência, e o conhecimento precoce de que a vida não era coisa fácil, adquirindo igualmente a certeza de que tudo é possível, mas para tal acontecer …que é preciso fazê-lo por si próprio.
Era assim nesse tempo.
Mas atrás de tempos, tempos vêm, e quando se mudam os tempos, diz o poeta e diz bem, que se mudam também as vontades;
e assim, hoje há príncipes e princesas e superdotados, na opinião de quem os transporta, todos os dias até à porta do estabelecimento de ensino, e lá os vai buscar, para que se não percam… perdendo os ditos no entanto, as tais lições de prática da vida que tão necessárias são.
Riscos havia, sim senhor, ontem como hoje, tal como a necessidade de aprender a fugir deles.
Mas épocas são épocas, e não cedem a comparações.
A propósito, me ocorreu assim pensar:
Ninguém tem fórmulas mágicas para nada; mas julga que tem…