Não havendo televisão na nossa terra, em toda a primeira metade do século XX, a oferta cultural tinha um papel de relevo na vida das pessoas.

A música clássica e os seus executantes eram parte importante do lazer e do prazer da juventude desse tempo; não se falhava um concerto, e criou-se a Juventude Musical Portuguesa, muito por mérito, entre outros, dos então jovens, Jolly Braga Santos e João de Freitas Branco;
não se perdia a Ópera, ainda que tivesse que ser das galerias, e fazendo parte da claque.
O teatro e os seus artistas eram acarinhados e as salas enchiam-se.
Na revista à Portuguesa, casa à cunha era o comum, e pese embora o seu contorno popular, punha em palco excelentes atores e talentosos criadores de inesquecíveis momentos de bom humor; nomes eternos ficaram: António Silva, Vasco Santana, ou Beatriz Costa, são apenas um exemplo.
O cinema estava no auge, e ninguém perdia as grandes produções, não apenas da mítica Hollywood, mas também do resto do mundo, incluindo a do cinema nacional, que chegou a atingir elevado nível para a época e uma cadência assinalável.
Corria o ano 53, quando Charlie Chaplin brilhou durante semanas, com o seu “Luzes da Ribalta”.
E começou aa fazer furor o inovador cinema italiano, catapultado por “Ladrões de bicicletas”, sendo também no mesmo ano, que se projetou, pela primeira vez em Portugal, um filme Japonês, “Rashômon”, de seu nome, para inauguração de mais um cinema, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa;
não sei se bem ou mal, traduziram o seu título como: “ Às portas do Inferno”.
Com isso e outras coisas, nos divertíamos.
A nível de bairro pontificava o bailinho de fim de semana, que dava para espairecer e encontrar namoro, sempre à vista da respetiva mamã, que quase nunca era para brincadeiras.
E ainda tínhamos, claro, o imperativo futebol, que já não era o das “balizas às costas”, mas não enriquecia quem então o praticava;
Para dar um notável reforço ao dito, já corria 60, chegava, de barco, modesto como sempre,
um tal Eusébio da Siva Ferreira que vinha do Sporting de Lourenço Marques para o Sporting Clube de Portugal , mas que num habilidoso desvio, foi levado afinal para o Benfica…onde bem ficou, para bem do futebol nacional.
Será inútil informar que no tempo a que aqui refiro, não havia consolas, nem tablets, e muito menos portáteis, e nunca, que me lembre, ouvi qualquer telemóvel perturbar um bom concerto…
Que seca… dirão alguns; pois, mas quem passou por esses tempos, acha que não… olhe que acha!
Em conformidade com o que escrevo, faço o meu pensamento da semana:
O que a uns interessa, a outros enjoa… E por muito que nos doa, vai ser sempre assim!