No meu tempo as pessoas falavam umas com as outras; toda a gente se pelava por dois dedos de conversa, fosse com quem fosse; conhecidos ou desconhecidos eram saudados pessoalmente, e não raro se abraçava quem se desconhecia.
Uma sociedade forja-se na base desse contacto direto; a presença fala por si, a voz é apenas um dos seus instrumentos, como o são os olhos, e os gestos, e até o nada de estar ali. No meu tempo era assim, até da refeição o falar fazia parte.
Hoje, não. É comum entrar-se num restaurante, e ver na mesa do lado, o pai a mãe e os filhos, sem falar entre si, mas todos dedilhando furiosamente o teclado do respetivo telemóvel; e não se surpreenda se tal acontecer durante toda a refeição; até o empregado de mesa, é comandado por gestos.
Hoje as pessoas não se falam, dedilham; e se alguém no grupo se atreve a dizer qualquer coisa, é certo e sabido que haverá sempre quem apressadamente, aceda â internet, para ver se o “palrador” não se terá enganado em qualquer pormenor do que disse, para o poder desdizer ou emendar.
Não era assim no meu tempo; mas quem hoje assim não proceder arrisca-se a ser chamado infoexcluído.
Mas os incluídos também falam, dir-me-ão; é verdade sim senhor, mas com o som do sistema. E também se podem ver um ao outro; é verdade sim senhor, mas apenas num ecrã e com a resolução que ele tiver.
Tenho um enorme apreço pelas novas tecnologias, que também uso, como calculam, mas deixem que eu prefira falar sempre que possa, frente a frente, olhos nos olhos, gesticulando com as mãos, podendo sentir o calor dum abraço, uma palmada nas costas, ou até um beijo, mesmo que seja protocolar. Gostos de velho…
E podem ter a certeza que sou dos que pensam, que falar tem os seus riscos.
Aqui está o meu pensamento da semana:
Não é raro que quem mais fale, seja quem menos tem para dizer, ou quem julgando dizer muito, nada diz; mais rico é o silêncio, que não dizendo nada…acaba dizendo tudo!