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A primeira dama ucraniana, Olena Zelenska, voltou a dar uma entrevista por email

“Não se habituem à nossa dor”

 |  Alexandra Ferreira  | 

A primeira dama ucraniana, Olena Zelenska, deu uma entrevista à CNN americana por email, onde abordou várias questões relativas à guerra, ao invasor russo e até à sua vida particular.

Olena Zelenska fartou-se de advertir que ninguém na Ucrânia está a salvo das forças russas e que tanto ela como o marido não são os principais alvos a abater pelos russos.

“Todo os ucranianos são um alvo para os russos: todas as mulheres, todas as crianças. Aqueles que morreram atingidos por um míssil russo enquanto tentavam evacuar de Kramatorsk não eram membros da família presidencial, eram apenas ucranianos. Assim, o alvo número um para o inimigo somos todos nós”, esclareceu a primeira dama da Ucrânia.

Ao contrário do que se pensou no início, Olena e o marido Volodymyr nunca pensaram fugir do país e colocar-se a salvo. Aliás, recusaram fugir e ceder e ficaram a combater os agressores russos. Cada um à sua maneira.

Porém apesar de estarem em Kiev já não estão juntos desde que a invasão teve início.

“O Volodymyr e a equipe vivem no escritório da presidência. Devido ao perigo, os meus filhos e eu fomos proibidos de lá ficar. Comunicamo-nos apenas por telefone”, disse Zelenska, adiantando que a filha Sasha, de 17 anos, e Kyrylo, de 9, estão com ela.

“Felizmente, eles dois estão comigo. Vou estar sempre por perto a cuidar e a discipliná-los. As próprias crianças – elas cresceram dramaticamente durante este período e também se sentem responsáveis ​​umas pelas outras e pelas pessoas ao seu redor”, afirmou Olena que garante não ter tido necessidade de explicar nada aos filhos.

“Nada precisava ser explicado. Falamos sobre tudo o que acontece. Quando vejo as entrevistas das crianças da Bucha ou ouço as histórias dos meus amigos sobre os seus filhos, percebo que as crianças não entendem as coisas como os adultos. Eles olham para a essência. Como disse uma criança: ‘Por que os russos são tão maus connosco?’ Aparentemente, eles foram espancados em casa?”.

Olena, que se casou com Volodymyr em 2003, e namorou com ele desde a Faculdade, não se coibiu de falar sobre a coragem e a liderança do marido numa altura em que ninguém esperava ser possível tal suceder.

“Sempre soube que o que ele era. Tornou um pai maravilhoso e um apoio para nossa família. E agora ele mostrou as mesmas características. Ele não mudou. É só que mais pessoas viram através dos meus olhos”, contou Olena.

Sobre o povo russo Olena Zelenska opta por já não tentar passar mensagens para as mães russas. Diz quer não vele mesmo a pena devido à propaganda.

“O nível da propaganda russa é frequentemente comparado à de Goebbels durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, na minha opinião, supera porque na Segunda Guerra Mundial não havia internet e acesso à informação, como agora. Agora todos podem ver os crimes de guerra – por exemplo, aqueles cometidos pelos russos em Bucha, onde os corpos de civis com as mãos amarradas simplesmente jaziam nas ruas”, relatou, dando a sua opinião sobre o assunto.

“O problema é que os russos não querem ver o que o mundo inteiro vê, para se sentirem mais confortáveis. Afinal, é mais fácil dizer: “É tudo falso” e ir tomar um café do que ler a história de uma determinada pessoa que morreu, olhar para seus familiares e amigos que estão de luto. Como fazer os russos verem isso? Penso que, infelizmente, de nenhuma maneira, eles estão cegos, não querem ouvir e ver. Eu não vou abordá-los mais”, garantiu.

“O principal para a Ucrânia hoje é que todo o outro mundo nos ouça e nos veja, e é importante que a nossa guerra não se torne um hábito para que as vítimas não se tornem meras estatísticas. É por isso que me comunico com as pessoas através dos media estrangeiros”, disse, sublinhando e pedindo:

“Não se habituem à nossa dor!”

Olena concentra-se agora em questões humanitárias e infantis

Enquanto Zelensky está focada na guerra e3 na defesa do país, a sua mulher, Olena, está concentrada em questões humanitárias e infantis.

Dada a situação de guerra no seu país, a primeira-dama diz que está a passar por toda esta complicada situação ajudando o seu povo na área em que ela própria se sente mais confortável.

“É como estar na corda bamba: se pensamos como se faz, perde-se tempo e equilíbrio. Para aguentar isto sigo em frente e faço o que devo. Tal como todos os ucranianos o têm feito. Muitos daqueles que escaparam sozinhos dos campos de batalha, que viram a morte, dizem que a principal cura depois da experiência é agir, fazer alguma coisa, ajudar alguém. Eu tento proteger e apoiar os outros”, esclarece.

De recordar que a primeira dama antes da guerra tinha nas crianças a peça central do seu trabalho e Olena não esconde a dor de ver crianças ucranianas a sofrerem em zonas de guerra.

“As crianças e as suas necessidades foram uma das principais áreas do meu trabalho, juntamente com a introdução de ‘direitos iguais’ para todos os ucranianos. Antes da guerra, lançamos uma reforma da alimentação escolar, preparando-a por vários anos, para torná-la saborosa e saudável ao mesmo tempo, para que as crianças adoecessem menos”, conta.

Só que, neste momento, a primeira dama sente que voltaram a recuar décadas.

“Agora não falamos de alimentação saudável, mas de alimentação em geral. É sobre a sobrevivência das nossas crianças! Não estamos mais a discutir ideias, como antes, qual é o melhor equipamento para as escolas – em vez disso a educação para milhões de crianças está em questão. Não podemos falar sobre um estilo de vida saudável para as crianças – o objetivo número um é salvá-las”, afirmou.

“Metade dos nossos filhos foram forçados a ir para o exterior; milhares ficaram física e psicologicamente feridos. A 23 de fevereiro – um dia antes da Rússia invadir a Ucrânia-, eles eram estudantes europeus comuns com agenda e planos para as férias”, diz.

“Imagine quem construiu e reformou uma casa e acabou de colocar flores no parapeito da janela; e agora está destruído, e nas ruínas o dono da casa tem de acender uma fogueira para se aquecer. Foi o que aconteceu com as políticas das nossas crianças e com cada família em geral”, relatou.

Porém, apesar de todas as dificuldades, Olena orgulha-se do seu país, particularmente do que ela considerou ser o “rosto feminino” da resistência ucraniana.

“No primeiro dia da guerra ficou claro que não havia pânico. Sim, os ucranianos não acreditavam na guerra – acreditávamos no diálogo civilizado. Mas quando o ataque aconteceu, não nos tornamos uma “multidão assustada”, como o inimigo esperava. Tornamos sim uma comunidade organizada.
Imediatamente, as controvérsias políticas e outras que existem em todas as sociedades desapareceram e todos se uniram para proteger o país. Vejo exemplos todos os dias e não me canso de escrever sobre isso. Sim, os ucranianos são incríveis”, refere orgulhosa.

“Escrevo muito sobre as mulheres, porque a participação delas está em todos os lugares – elas estão nas forças armadas e nas forças de defesa, a maioria delas são médicas. E são elas que levam crianças e famílias para a segurança. Por exemplo, só elas podem ir além fronteiras. De certa forma, as mulheres têm um papel ainda mais diversificado do que o dos homens; isto é mais do que igualdade!” – rematou Olena Zelenska.

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