fbpx
Catarina Fortunato de Almeida é Board Member da ONG ‘Together Internacional’

“Não é fácil ver a dor no rosto das pessoas”

 |  Alexandra Ferreira  | 

A jornalista é voluntária no centro de acolhimento humanitário em Przemyśl, fronteira da Polónia com a Ucrânia e faz chegar material hospitalar doado por empresas portuguesas, ao interior daquele país em guerra para ajudar civis e militares.

Em conversa com Catarina Fortunato de Almeida ficámos a conhecer a sua faceta como voluntária, em terras onde a guerra mata, fere e desloca pessoas, pela “Together Internacional”, ONG sediada em Haia.

Muito apostada nesta sua nova condição de apoio ‘in loco’ como voluntária na fronteira ucraniana, do lado polaco e do lado ucraniano, Catarina não perde tempo e vai direta ao assunto.

“Faço voluntariado há muito tempo. Esta guerra ninguém a pediu sabendo eu muitas línguas achei que a minha ajuda era necessária e, claro, não consegui dizer que não”, confessa.

Esta organização tem representação em vários países, um deles é Portugal.

“Aqui [na Together Internacional] não procuramos números mas sim uma corrente de pessoas solidárias que pretendam realmente ajudar”, explicou-nos a jornalista.

Catarina Fortunato de Almeida foi convidada a entrar, devido ao trabalho desempenhado, com o cargo de Board Member e funções de coordenação e implementação de projetos a nível internacional.

Esta ONG trabalha intensamente para fazer chegar a ajuda necessária e urgente ao terreno onde a guerra não poupa ninguém.  E Catarina, claro, fez questão de estar lá, a ajudar no que era preciso. E promete: “Vou voltar, em Maio”.

Na viagem que fez até à fronteira polaca de Przemyśl e onde ficou um mês como voluntária, a jornalista garantiu-nos que não foi fácil ter de lidar com muitas emoções ao mesmo tempo quando estava a apoiar quem perdeu tudo.

“Não foi nada fácil, as pessoas estão muito vulneráveis, assustadas”, garante-nos a jornalista.

Não é fácil ver a dor no rosto das pessoas e tanto desespero. Numa guerra não há pontos a favor, ninguém ganha, todos perdem.”

“Há que ter plena consciência que o ser humano é todo igual,  não há classes, credos, religiões ou políticas.”

A situação mais dolorosa que experimentou como voluntária não foi apenas uma. De acordo com ela, “foram muitas”. “Dava para escrever um livro”, diz, recordando uma história que lhe tocou o coração.

“Das muitas situações que passaram por mim, lembro-me de uma em particular”, contou-nos Catarina.

“Uma senhora idosa com 95 anos que estava deitada numa palete, dentro do centro de acolhimento na fronteira, estava sozinha… Depois de eu lhe fazer a higiene e ajudar a alimentar olhou-me nos olhos e disse-me que eu era o anjo dela”, relata.

A jornalista disse-nos o que a nonagenária lhe confidenciou: “Ela falou: ‘Fugi com os meus pais da segunda guerra mundial para a Polónia e nunca pensei viver a mesma situação com os meus netos e bisnetos’. Esta senhora colocou os netos e bisnetos a salvo no comboio para Varsóvia.  Quatro horas depois destas palavras faleceu.”

Sobre o povo ucraniano, a jornalista garante que são boas pessoas, não se lamentam, só tentam sobreviver e voltar à terra.

“Não se lamentam, não há choros nem gritos, só há o vazio e um silêncio doloroso.  Custou-me muito ver as crianças aterrorizadas, perderam os seus pais mas continuam a chamar por eles”, lamentou.

De qualquer forma, mesmo com os sentimentos à flor da pele, Catarina quer voltar a fazer milhares de quilómetros para ir ajudar por ser gratificante.
“Vou voltar. Já estou a preparar tudo o que é necessário para levar”, esclarece, adiantando que “a vida só faz sentido se ajudarmos o nosso semelhante. Esse é o maior legado que posso deixar.”

Embalada e focada no apoio a quem está em sofrimento no terreno, Catarina Fortunato de Almeida decidiu com uma amiga criar o grupo de movimento solidário ‘Somos Todos Ucrânia’ que desenvolve ações humanitárias de ajuda aos refugiados Ucranianos que chegam ao nosso país.

De volta a Portugal mas já com um pé de novo na Ucrânia, Catarina não está parada.

“Regressei mas o meu coração ficou lá.  Vim buscar mais ajudas. Bens essenciais à dignidade humana”, recorda sempre entusiasmada.

Para que tudo funcione e para que os apoios não parem de chegar, Fortunato de Almeida criou um movimento. “Criei, com a Alexandra Serra, o movimento solidário ‘Somos Todos Ucrânia’ com um grupo no Facebook.”

“Estamos a  pensar nas ajudas no imediato mas já a perspetivar o futuro, empenhadas em colocar um sorriso na cara daquelas crianças, que são o futuro da Ucrânia.”

De acordo com as necessidades no terreno e mesmo para levar até ao interior da Ucrânia “é urgente medicamentos de prescrição médica, medicamentos de uso hospitalar, kits básicos de cirurgia, gessos e talas, leite em pó, comida de boiões para bebés, toalhinhas e enlatados para os militares.”

 

 

 

 

 

 

 

Catarina lembra que “estão em preparação várias ações solidárias para com o povo ucraniano. Deixo o link do grupo do movimento, para quem deseje participar ativamente.”

https://www.facebook.com/groups/431544658731204/?ref=share

Apoio de empresas é essencial

Variadas empresas portuguesas têm contribuído principalmente com géneros hospitalares que tal como Catarina diz “a guerra parece que veio para ficar e os hospitais estão desarmados do essencial”. Mas não é tudo, pede-se também “bastantes comida enlatada para os militares no terreno”.

Trabalho elogiado por todos

O trabalho de Catarina e toda a equipa tem sido bastante elogiado.

João Soares, filho de Mário Soares, refere-se ao trabalho de toda a equipa da sua “amiga Catarina” como “generoso, dedicado, esforçado, de voluntários portugueses junto à fronteira Ucrânia Polónia”, afirmou, rematando: “De ambos os lados. Parabéns”.

EXCLUSIVO SEGUENEWS – 16.04.2022

 

 

Créditos Imagem:

@DR

© 2022 Direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte, sem prévia permissão por escrito da Segue News. | Prod. Pardais ao Ninho.