A jornalista é voluntária no centro de acolhimento humanitário em Przemyśl, fronteira da Polónia com a Ucrânia e faz chegar material hospitalar doado por empresas portuguesas, ao interior daquele país em guerra para ajudar civis e militares.
Em conversa com Catarina Fortunato de Almeida ficámos a conhecer a sua faceta como voluntária, em terras onde a guerra mata, fere e desloca pessoas, pela “Together Internacional”, ONG sediada em Haia.
Muito apostada nesta sua nova condição de apoio ‘in loco’ como voluntária na fronteira ucraniana, do lado polaco e do lado ucraniano, Catarina não perde tempo e vai direta ao assunto.
“Faço voluntariado há muito tempo. Esta guerra ninguém a pediu sabendo eu muitas línguas achei que a minha ajuda era necessária e, claro, não consegui dizer que não”, confessa.
Esta organização tem representação em vários países, um deles é Portugal.
“Aqui [na Together Internacional] não procuramos números mas sim uma corrente de pessoas solidárias que pretendam realmente ajudar”, explicou-nos a jornalista.
Catarina Fortunato de Almeida foi convidada a entrar, devido ao trabalho desempenhado, com o cargo de Board Member e funções de coordenação e implementação de projetos a nível internacional.
Esta ONG trabalha intensamente para fazer chegar a ajuda necessária e urgente ao terreno onde a guerra não poupa ninguém. E Catarina, claro, fez questão de estar lá, a ajudar no que era preciso. E promete: “Vou voltar, em Maio”.
Na viagem que fez até à fronteira polaca de Przemyśl e onde ficou um mês como voluntária, a jornalista garantiu-nos que não foi fácil ter de lidar com muitas emoções ao mesmo tempo quando estava a apoiar quem perdeu tudo.
“Não foi nada fácil, as pessoas estão muito vulneráveis, assustadas”, garante-nos a jornalista.
“Não é fácil ver a dor no rosto das pessoas e tanto desespero. Numa guerra não há pontos a favor, ninguém ganha, todos perdem.”
“Há que ter plena consciência que o ser humano é todo igual, não há classes, credos, religiões ou políticas.”
A situação mais dolorosa que experimentou como voluntária não foi apenas uma. De acordo com ela, “foram muitas”. “Dava para escrever um livro”, diz, recordando uma história que lhe tocou o coração.
“Das muitas situações que passaram por mim, lembro-me de uma em particular”, contou-nos Catarina.
“Uma senhora idosa com 95 anos que estava deitada numa palete, dentro do centro de acolhimento na fronteira, estava sozinha… Depois de eu lhe fazer a higiene e ajudar a alimentar olhou-me nos olhos e disse-me que eu era o anjo dela”, relata.
A jornalista disse-nos o que a nonagenária lhe confidenciou: “Ela falou: ‘Fugi com os meus pais da segunda guerra mundial para a Polónia e nunca pensei viver a mesma situação com os meus netos e bisnetos’. Esta senhora colocou os netos e bisnetos a salvo no comboio para Varsóvia. Quatro horas depois destas palavras faleceu.”
Sobre o povo ucraniano, a jornalista garante que são boas pessoas, não se lamentam, só tentam sobreviver e voltar à terra.
“Não se lamentam, não há choros nem gritos, só há o vazio e um silêncio doloroso. Custou-me muito ver as crianças aterrorizadas, perderam os seus pais mas continuam a chamar por eles”, lamentou.
De qualquer forma, mesmo com os sentimentos à flor da pele, Catarina quer voltar a fazer milhares de quilómetros para ir ajudar por ser gratificante.
“Vou voltar. Já estou a preparar tudo o que é necessário para levar”, esclarece, adiantando que “a vida só faz sentido se ajudarmos o nosso semelhante. Esse é o maior legado que posso deixar.”
Embalada e focada no apoio a quem está em sofrimento no terreno, Catarina Fortunato de Almeida decidiu com uma amiga criar o grupo de movimento solidário ‘Somos Todos Ucrânia’ que desenvolve ações humanitárias de ajuda aos refugiados Ucranianos que chegam ao nosso país.