A perda de um filho é insuportável, sem termo no dicionário.
Filhos que perdem pais são órfãos, cônjuges ficam viúvos, mas para a dimensão dessa perda não há nome.
“Como sobrevivi? pedia para não acordar no dia seguinte. Mas o dia alvorecia, eu abria os olhos e capacitava-me que continuava viva […] era um misto de desânimo, depressão, tristeza, raiva […] o peito doía, dilacerado. Sentia-me, amputada.” – Ana
A perda de um filho é insuportável, indescritível. Nem se consegue uma denominação para estes pais. Filhos que perdem pais são órfãos, cônjuges ficam viúvos, mas para a dimensão dessa perda não há nome.
A morte de um filho rompe com a lógica cronológica de que os pais morrem primeiro. Independente de quando ou como os pais aprendem a viver sem esse filho, essa perda é como uma cicatriz sempre visível que, com o tempo pode sangrar menos, mas será sempre sensível e dorida.
Os filhos representam o futuro, continuidade, a descendência, o legado, sonhos e expectativas, conceções, projetos, esperanças, desejos, fantasias e várias outras coisas impossíveis de serem relatadas.
A morte do filho não rompe esse vínculo, e os pais iniciam uma árdua caminhada para manter e preservar-lhes a memória. O medo de esquecê-los e que eles sejam esquecidos adicionados ao vazio da falta e à extinção do futuro provocam essa dor, descrita como a mais difícil de ser defrontada. Para os pais, perdê-los é como tirar a própria vida.
A morte do filho é a fonte de pesar mais atormentadora e dolorosa.
O luto é singular, único e individual, cada um o experimenta a seu modo.
Trata-se de um processo influenciado por vários fatores, como: a causa da morte (acidente, suicídio, doença repentina e aguda ou lenta e crônica); idade, o que representava e o vínculo e relações estabelecidos; característicos pessoais, história de vida do pesaroso e a fase do desenvolvimento em que se encontra; habilidades para enfrentar as frustrações; condições físicas e psíquicas do pesaroso. É bastante importante uma forte rede de apoio a estes pais. As condições internas e externas para lidar com a dor.
O conceito de luto e a expressão da dor também são influenciados de acordo com a cultura, costumes, valores morais e religiosos. É um processo em constante elaboração e o mais difícil de toda a vida do ser humano. Encontrar um significado para a perda é basilar para sobreviver a ela.
Infelizmente, a cada dia mais pais perdem seus filhos de forma violenta e inesperada: morte súbita, acidentes, homicídios e suicídios.
A perda de um filho diferencia a pessoa e a sociedade tende a evitá-la, quantas vezes se evita de falar com pais enlutados coma famosa frase- nem tenho palavras. Este comportamento leva para esses pais a sensação de exceção (só o filho deles morreu) e solidão.
O estigma e o preconceito influenciam o processo de luto.
São vários os sentimentos após a morte de um filho, como grande desespero e tristeza, torpor, apatia, negação, fuga, impotência e descrença frente à vida, estranheza do mudo, raiva, revolta, frustração, irritabilidade e hostilidade, desamparo, medo do futuro e de perder outros filhos.
Os pais entendem que sua maior obrigação é cuidar do filho , se ele morre é porque não fizeram bem a sua parte, talvez este seja o maior motivo do sentimento de culpa.
Há que se respeitar o tempo de recolhimento dos pais enlutados e albergar sua dor.
Precisam de aproximação, autorização para sofrer se assim podemos dizer. Ouvir e falar à exaustão sobre seus filhos. Sejamos bons ouvintes.
Os vínculos afetivos com esses filhos nunca se cortam apesar de adaptados, não os esquecem em nenhum momento e podem continuar a conversar com estes nos momentos em que sentem mais a falta da sua presença.
Muitos pais abraçam o motivo da morte de seu filho e dão-lhe um novo significado.
Pais que perdem seus filhos por morte traumática podem abraçar causas solidarias, iniciar trabalho voluntário com familiares ou pessoas que passam ou passaram pela mesma experiência. Alguns criam ONGs com o objetivo de diminuir os riscos, ou acolher os familiares. Outros encontram conforto em grupos de pais enlutados.
Há aqueles que escrevem, desde textos soltos, diários e livros sobre a vida e morte dos filhos. Muitos partilham a perda e a dor nas redes sociais como um meio de falar sobre o filho e hospedar a dor. Não importa o meio que os pais encontram para conviver com a falta dos seus filhos, tudo é adequado, desde que lhes faça bem.
A morte trágica, violenta, abrupta e inesperada, é sempre um risco para luto mais complicado.
É importante que a família receba apoio por profissionais especializados como cuidados e prevenção de possíveis consequências deste que é o maior trauma que se pode viver.
Créditos Imagem:
© 2022 Direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte, sem prévia permissão por escrito da Segue News. | Prod. Pardais ao Ninho.