Como todos bem sabem, o tempo mede-se em anos, que se acumulam em séculos; os mais apressados, usam as horas, os minutos e até os segundos.
Mas há outras maneiras de contar o tempo, como esta que aqui vos trago.
Dei comigo ontem a olhar para duas esculturas em madeira castanha, cujo autor desconheço. Estão penduradas na parede que julguei apropriada, lado a lado, e representam duas figuras que encantaram a minha imaginação, era ainda adolescente, quando li pela primeira vez Cervantes, e o seu “Dom Quixote de la Mancha”.
As figuras são portanto a do fidalgo D. Quixote, e a do seu servo, Sancho Pança: uma, a do fidalgo, esguia e nervosa, a outra, baixa e anafada, do seu tranquilo escudeiro; era o Cavaleiro um sonhador, sempre inebriado por imaginárias lutas e paixões , e a outra, um iletrado mas realista campesino, Sancho Pança, que refreava as explosões do seu mandante, mais interessado numa boa refeição do que em fantasiosas batalhas, razão talvez do nome que lhe deu o autor: Pança.
Estão lado a lado, como sempre estiveram, mas desta vez sem se meterem em aventuras.
Olhei, como disse, repassei mentalmente o extraordinário livro, e dei comigo a pensar há quanto tempo ali estariam, nessa parede, simbolizando a loucura e a sensatez, o sonho e a realidade.
Fiz os cálculos, e facilmente e cheguei à conclusão que há 22 anos. Ora somando outros 20 desde a sua compra num antiquário, fazia uma soma redonda.
Tinha descoberto uma nova maneira de contar o tempo. Digo isto porque a primeira sensação, que me ocorreu foi esta: “Como o tempo passa”.
Realmente o tempo passa também para as coisas que nos cercam, que vemos todos os dias, das quais gostamos, e que fazem parte do livro da vida, do autor desconhecido que nós somos.
Por elas podemos aquilatar quanto andámos nós no tempo, e onde estamos. Podemos fazer contas, que até levantam saudosas recordações, mas não podemos desfazê-las.
Assim pensará, sensatamente, Sancho Pança, mas não o D. Quixote, que também vive dentro de nós….
Aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“Quanto tempo vivemos, não é tão importante quanto, o que nele fizemos! “