Pouco ou nada se fala dela mas a BBC NEWS republicou uma reportagem atualizada sobre Mary MacLeod, a mãe de Trump, que imigrou com 50 dólares no bolso e só regularizou a sua situação 12 anos depois.
Não deixa de ser curioso que Donald Trump faça bandeira no seu mandato de uma série de medidas anti-migração como a expulsão em massa de imigrantes ilegais dos EUA porque na verdade, a sua mãe também migrou da Escócia para a Terra do Tio Sam. Bom, há uma diferença, Mary MacLeod entrou no país com visto de imigrante e acabou por conseguir a cidadania 12 anos depois de ter desembarcado em Nova Iorque.
A história dela é recontada de novo pela BBC News que a atualizou para o presente.

A mãe do presidente norte-americano estava entre os milhões de emigrantes que chegaram aos EUA nas primeiras décadas do século XX em busca de trabalho. Mary Anne MacLeod registou-se como empregada doméstica.
Nascida em Tong, um povoação na Ilha de Lewis, no norte da Escócia, Mary desembarcou em Nova York a 11 de maio de 1930. Tinha 18 anos e 50 dólares no bolso, de acordo com documentos históricos digitalizados pela Fundação Estátua da Liberdade – Ellis Island.
Ao contrário do que Trump sempre assegurou, os documentos alfandegários revelam que quando emigrou, Mary Anne MacLeod pretendia ficar no país. Não estava apenas de passagem, como turista.
O seu nome aparece nos registos da época digitalizados pela Fundação Estátua da Liberdade, que preserva os dados de mais de 51 milhões de pessoas que chegaram aos EUA, entre 1892 e 1957, pela Ellis Island e pelo porto de Nova Iorque.

De acordo com os documentos, Mary embarcou a 2 de maio de 1930 no porto de Glasgow com destino aos EUA, onde chegou nove dias depois a bordo do navio Transilvania.
No documento alfandegário está bem claro que Mary não planeava regressar à Escócia, pretendia ficar a viver e a trabalhar nos EUA e assim obter a cidadania americana.
Trump afirmou em diversas ocasiões que a mãe viajou para os EUA como turista dada a retórica contra a imigração – ilegal e até mesmo legal – que caracteriza o discurso do presidente dos EUA.
“Ela veio com um visto de imigrante para ter residência permanente”, explicou Barry Moreno, historiador do Museu Nacional da Imigração de Ellis Island, à emissora britânica BBC.
“Se desde o momento em que chegou, ela queria viver nos EUA, isso é imigrar. Não há dúvida disso”, disse à BBC News Mundo, a escritora Gwenda Blair, autora do livro ‘The Trumps: Three Generations of Builders and a Presidential Candidate’ (‘Os Trump: três gerações de construtores e um candidato presidencial’, em português).
Apesar disso, Michael D’Antonio, autor do livro ‘Never Enough: Donald Trump and the Pursuit of Success’ (‘Nunca é suficiente: Donald Trump e a busca pelo sucesso’, em português) garante que a sua situação não era totalmente precária.
“Ela tinha dinheiro suficiente para pagar um lugar em segunda classe, uma vez que viajou numa cabine compartilhada com outra mulher, evitando a terceira classe. Ela obviamente tinha algum dinheiro, não era pobre, mas veio como imigrante”, explicou o historiador à BBC.
Trump – o quarto dos cinco filhos de Mary Anne – visitou a casa onde a mãe cresceu, em 2008. Durante a viagem, disse que já tinha estado em Lewis uma vez quando “tinha três ou quatro anos”, mas que não se lembrava muito do local.
As irmãs também imigraram para os EUA
Mary não foi a única da família a apanhar o barco em busca de concretizar o sonho americano. Três das suas irmãs já haviam deixado a Escócia e viviam nos EUA: Christina, Mary Joan e Catherine.
Mary Anne entrou nos EUA com um visto emitido três meses antes da partida, no porto de Glasgow, a bordo do navio Transilvânia, em direção à Nova York.
Na alfândega, registou a profissão de “doméstica” e declarou que ia ficar na casa da sua irmã Catherine, que já vivia em Astoria, no Queens.

Mary Anne era a ‘benjamin’ dos nove irmãos e cresceu numa comunidade rural marcada pela pobreza e pela falta de oportunidades após a Primeira Guerra Mundial. Embora fosse de uma família com uma condição ligeiramente melhor do que a média devido ao trabalho do pai, que administrava uma agência dos correios e uma loja. Nessa época as dificuldades económicas levaram vários jovens da região a procurarem mais oportunidades no exterior.
Seis anos depois de chegar nos EUA, em 1936, casou com o bem-sucedido empreendedor imobiliário Frederick Trump, filho de imigrantes alemães. Mary Anne e Fred moravam numa área rica do Queens e tiveram cinco filhos.

Mary Anne naturalizou-se cidadã americana em 1942 e morreu em 2000, aos 88 anos.
Trump ainda tem três primos em Lewis, na aldeia da mãe na Escócia, que não falam com a imprensa. Após a primeira vitória presidencial de Trump em 2017, o vereador local e amigo dos primos, John A. MacIver, disse à BBC que conhecia “muito bem” a família de Trump em Lewis e entendia “perfeitamente que eles não queiram falar sobre isso.”
“Eles são pessoas boas e reservadas não querem publicidade da sua vida”, disse MacIver na época.
Segundo o então vereador, Mary Anne voltou para Lewis ao longo de sua vida e sempre falou gaélico.
“Inteligente e ambiciosa”
Em junho de 1934 a escocesa voltou à terra natal, fê-lo ao longo da vida. Regressa aos EUA, novamente através de Nova Iorque, em setembro de 1934, desta vez a bordo do navio Cameronia. E, em 1942, a mãe de Trump tornou-se oficialmente cidadã norte-americana.
No seu livro ‘A Arte da Negociação’, Donald Trump descreve a mãe como sendo uma “dona de casa muito tradicional que tinha plena consciência do mundo além dela”.
Mas não é o único que a descreve como sendo uma mulher “muito inteligente”. Também Michael D’Antonio descreveu Mary Anne como uma mulher “muito espirituosa, inteligente e ambiciosa”.
“Era muito competitiva e tão ambiciosa como o pai [administrador dos correios]. Só não podia expressar isso da mesma forma porque era mulher. Naquela época, era difícil para as mulheres terem uma carreira e serem tão ambiciosas como hoje”, revelou o também historiador.
Mais tarde, já casada com o construtor Fred Trump — um dos solteiros mais cobiçados de Nova Iorque – encontrou na caridade lugar para deixar uma marca no mundo.
Além de vários hospitais, Mary Anne terá também ajudado os escuteiros e o Exército da Salvação, uma das maiores instituições de caridade do mundo.
Após sua morte, em agosto de 2000, aos 88 anos, o The New York Times publicou um obituário descrevendo-a como “filantropa”.
Fonte: BBC NEWS