Certeza se não se tem onde nasceu, mas em Portugal foi, desfeitas as dúvidas, se as houvesse, pela forma apaixonada como o amou, e laudativamente o cantou.
A terra na qual se nasce, insignificante que seja, por toda a vida se deseja. E Luís Vaz de Camões não se ficou pelo espaço apenas, mas deu-lhe eco, espalhando dos seus feitos, o valor.
Hoje, quase só se recorda o poeta, por dar o título ao mais nobre prémio literário da lusitanidade, ou por estar o seu nome ligado ao dia do seu país, dia também justamente consagrado como o Dia das Comunidades Portuguesas.
Essa justa extensão ao Mundo, confirma que o Lusitano é bem um cidadão da Terra no seu todo, pela inegável contribuição que lhe deu, com o destapar dos caminhos, que pelo mar imenso, podiam mais unir povos e culturas.
Longe que esteja do rincão donde partiu, com carinho, e não raro com muito orgulho, o Lusitano não esquece a terra onde nasceu, com saudade viva, com lágrimas quentes, com o mais natural dos amores. O sonho de voltar, que tão poucas vezes acontece por razões da vida, morre mesmo assim com Ele.
Tive a rara felicidade de sentir isso, em qualquer um dos Continentes que a convite visitei, para de lá dar um Abraço ao Mundo, no Domingo mais próximo daquele em que se comemorava Portugal.
Nada nem ninguém faltava: Lá estava a língua de Camões, os petiscos mais genuínos da mesa Lusa, e como sobremesa um rancho folclórico local, irreprimivelmente trajado, dançando e cantando com inexcedível mimo e perfeição, o que de mais puro tinha a sua terra.
Como significativo pormenor, a maioria dos bailarinos e cantantes, na tal Terra nunca tinham estado, nascidos que tinham sido ali, no ninho de acolhimento.
Sobre o Luís, não se importará que assim o trate, gosto do Poeta e do Homem, imperfeito que era, tal como todos somos, e não tanto pelo extenso poema que escreveu, da saga do povo que era o seu, mas sim pelo genial uso das palavras na sua Lírica, onde magistralmente define os mais comuns sentimentos humanos.
Cada poema de Canções é uma pauta, onde está a melodia e o contraponto, de que resulta uma eterna musicalidade, que se decora e nunca esquece.
Aquilo que sobre o amor e tantos outros sentimentos Ele nos diz, é simplesmente lapidar.
Eterno e atrevido pinga-amor que sempre foi, desse amor sofreu a dor da perda, provou o amargor da desilusão, e até o embaraço da resposta mais inesperada.
Se como Camões diz, e eu concordo, “O Amor é fogo que arde sem se vêr”, bem quente andou sempre o coração do Poeta…
A vida irregular e infeliz, a fortuita perda duma vista, o que o mar lhe confidenciou, deu e lhe tirou, diz Luíz Vaz que apenas a si se deve, e aponta as causas:
“Erros meus, má fortuna, amor ardente,
em minha perdição se conjugaram.”
E em desabafo ainda confessa, que:
“Os erros e a fortuna sobejaram, que para mim bastava o amor somente…”
Sendo Nosso e Grande, como podemos nós não exaltar a cristalina clareza dos seus versos.
Bendita a pena com que os escreveu!
E aqui fica o meu pensamento sobre o assunto:
“O amor ao local em que se nasce, natural que é, vive connosco…”