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MUDA
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LATITUDE 34,8311o S, LONGITUDE 20,0131o E

A imensidão do ondulante manto azul-esverdeado, cortado no pano azul celeste por ténue linha perdida no horizonte; a brisa, o ar prenho de salinidade enchendo as narinas; o perscrutar da cor, do formato e a altura das nuvens ao sabor dos ventos; a solidão que o acompanha, mas que não sente, empresta a quem se entrega às lides do mar uma perspectiva de vida sem igual…

A História da Humanidade sempre serviu de conto de aventuras, quiçá também de tragédias, em que o Homem do Mar no manto oceânico se viu envolvido, e às muitas centenas de milhares foi engolido na fúria dos elementos.

Ernest Hemingway, na sua obra ‘O Velho e o Mar’ traduziu em termos emblemáticos a vivência do Homem do Mar; o seu hábito de recorrer à paciência e à persistência para melhor enfrentar os caprichos desse gigante, o mar, que teme e respeita.

A História do Homem do Mar é por vezes trágica, como aquela registada em águas sobranceiras à ponta mais a sul do continente africano: o Cabo das Agulhas (latitude: 34,8311o ; longitude: 20,0131o); assim o denominou Bartolomeu Dias em 1488 na sua viagem de regresso a Portugal.

Muitos terão posterior e possivelmente depreendido que a razão de ser dessa toponímica denominação do Cabo das Agulhas dissesse respeito aos rochedos que ali ladeavam a praia. A razão de ser foi diferente: Dias notou que naquele preciso local – as agulhas das bússolas apontavam directamente ao verdadeiro Norte!

Pelas redondezas do Cabo das Agulhas as águas do Oceano Atlântico encontram as do Índico. A temperaturas e graus de salinidade diferentes, entre outras especificidades, os dois lençóis de água vestem-se de tonalidades contrastantes, parecendo separados por circundante linha divisória.

No decorrer dos séculos têm-se registado centenas de naufrágios ao longo dessa costa, hoje da Província Sul-Africana do Cabo Ocidental.

Muitos foram os naufrágios, em águas bordejantes ao Cabo das Agulhas (Cape Agullhas) e do relativamente próximo Cabo das Tormentas (Cape of Storms) depois denominado por D. João II de Portugal e ainda hoje assim conhecido por Cabo da Boa Esperança (Cape of Good Hope), situado na ponta mais a oeste do litoral meridional do continente africano.

Um desses trágicos naufrágios ocorreu a 30 de Maio de 1815, quando o Arniston, veleiro proveniente de Ceilão (Sri Lanka), que já fizera oito (8) viagens entre a Inglaterra e o Extremo Oriente, tendo a bordo cem (100) soldados feridos e variados outros passageiros e respectivas famílias, ao ser literalmente apanhado por violenta tempestade abalroou em cortantes rochedos, tendo unicamente uma mão cheia de pessoas conseguido chegar à praia, onde buscaram refúgio numa gruta. Dias depois, o filho de um agricultor das proximidades logrou encontrá-los, sendo levados à Cidade do Cabo.

Naufrágio esse que poderia ter sido evitado se os donos do veleiro se não tivessem recusado a dispender a quantia necessária para a aquisição de um cronómetro novo, caro naqueles dias, que o comandante do veleiro tinha requisitado dado que aquele a bordo não mostrava ser preciso.

Sem visibilidade ao ser apanhado pela tempestade, o comandante do Arniston calculou erroneamente encontrarem-se à longitude (cujo cálculo correcto requeria a precisão no funcionamento de um bom cronómetro) da Baía da Mesa (na Cidade do Cabo), quando nem tinham passado sequer o Cabo das Agulhas.

O veleiro ao fazer-se a terra acabou com o casco rasgado por autênticas ‘agulhas’ de escolhos, afundando de imediato. Com o açoreamento da praia contígua vêem-se, ainda hoje, restos do casco do Arniston.

 

Créditos Imagem:

Wikipédia

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