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Monteiro Cardita
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Janelas discretas e indiscretas

As janelas do Norte da Europa são em tudo distintas das do Sul.
Desde logo o tamanho. As do Norte são enormes para deixarem o máximo de luz possível.  E também são porque é através delas que se fazem as mudanças. Por elas entram e saem os móveis, mesas, cadeiras, aparadores, camas, colchões, e toda a sorte pertences com recurso a camiões guindaste que se alugam para o efeito. As das casas antigas ainda têm o gancho sobre as janelas que era usado para recolher a mobília e para a fazer sair, e que hoje serve de mero enfeite decorativo.
Já as janelas do Sul são tradicionalmente pequenas, algumas minúsculas mesmo, sobretudo para evitar a entrada do calor no verão e os móveis entram pelas portas, levam-se escada acima quando não há elevador, muitas vezes à força de braços.
Depois, no Norte os cortinados estão quase sempre abertos sem que aparentemente alguém se preocupe com o olhar bisbilhoteiro dos vizinhos. Ninguém se dá ao trabalho de espreitar a casa alheia porque é natural tudo estar bem à vista de todos.
No Sul, por causa das invejas, fecha-se tudo aferrolhado, havendo mesmo umas duplas com tabuinhas de madeira que se colocam depois das vidraças de modo a permitirem ver e não ser visto na alcoviteirice das frinchas. As persianas são aquele acessório de casa fundamental no verão, sobretudo para quem vive em locais onde o calor é intenso, que não se vislumbram no Norte.
Mas, há uma razão religiosa a ter em boa consideração. Enquanto a Sul vingou o catolicismo, as correntes protestantes – luteranismo e calvinismo – que se instalaram no Norte da Europa mudaram a conceção de privacidade dos seus povos. Aqui, esconder-se atrás de uma cortina ou persiana pode significar que se está a esconder alguma coisa.
Nada como fazer tudo às claras e não ter nada a esconder de ninguém.

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Unsplash

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