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MUDA
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IN VINO VERITAS (I)!

O Dia de S. Martinho já lá vai (11 de Novembro). Em Portugal esta data associa-se à celebração da maturação do vinho do mesmo ano. Segundo o velho ditado: No Dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho!

Falemos pois sobre um episódio que se relacionou precisamente com a degustação de um vinho. Há anos conheci simpático casal francês que na cidade-berço da África do Sul passeara então e pela primeira vez por solo africano. ‘Donde eram’, perguntei?’ “De Saint-Denis”, responderam.

Saint-Denis!? Onde se meteria Saint-Denis no mapa-mundi, pensava eu com os meus botões; facilitaram-me a tarefa ao revelarem que eram provenientes da capital da Ilha Reunião. ‘A ilha
situada a leste da costa oriental de Madagáscar que arvora a bandeira tricolor francesa?’ “Essa
mesmo!”.

Ora, nem mais. Realmente pouco se ouve falar da lha Reunião. Este casal, sempre que possível e ao haver oportunidade visitava natural e regularmente a região vinícola da França de familiares e antepassados seus ao invés de visitar, por exemplo, paragens africanas como então tinham apenas feito.

É claro que, disseram-me também, havia sempre a tentação de visitarem pelo menos um país
africano francófono, mas a vida nem sempre permitia a realização de certos sonhos.

Posto isto, havia que perguntar-lhes: ‘mas então porque a África do Sul e mais precisamente a
sua cidade-berço, a Cidade do Cabo?’

Bom, revelaram, esboçando um sorriso – num restaurante algures na sua ilha tinham degustado uma ‘pinga’ que desconheciam; para surpresa e agrado seu era de muito boa qualidade. Ao repararem no rótulo da garrafa notaram ser vinho de uma casta de uvas de bandas sul-africanas, mais precisamente da região vinícola do Cabo. Assim foi que decidiram, se surgisse a ocasião, visitar essa região e assim também pisarem pela primeira vez solo do continente africano, propriamente dito.

Lá foram ao Cabo, visitaram vineyards da zona de Stellenbosch, e depois de provarem vários dos vinhos produzidos na província sul-africana do Cabo Ocidental regressavam a casa, pensando em fazer de futuro visita de maior amplitude à África do Sul.

O Romanos surgiram com essa in vino veritas para simplesmente quererem dizer que depois de bem regados com uns copitos a mais do suco de uva fermentado pudessem alguns revelar a verdade, que de outra forma muito possivelmente não o fariam; isto é, soltarem pastosamente a língua para no dia seguinte nem sequer se lembrarem ou terem a mínima noção do que teriam dito. Ou seja ainda, para quem tivesse convidado e nem que tivesse sido à custa de vários copitos de vinho, mesmo daquele de boa qualidade, teria valido a pena o convite à beberricagem.

Não era minimamente isso que acontecia com o simpático casal francês; encontravam-se ambos em plena posse das suas faculdades quando contaram a sua ‘aventura’ africana, resultante da curiosidade suscitada numa refeição bem regada com o tal suco de uva fermentado (já muito cantado por crentes de Bacco, o deus romano da agricultura, vinho e fertilidade), que fê-los então resolver desvendar in loco o ‘mistério’ da boa qualidade de vinhos dessa tal região do Cabo e assim visitar pela primeira vez terras do continente africano propriamente dito.

In vino veritas! Não deixa de ser verdade, pelos vistos, que a produção vinícola sirva não só para satisfazer o mercado interno e o de exportações vinícolas de um país, como também de cartão-de-visita podendo atrair a curiosidade e o interesse de connaiseurs; em suma, de turistas em potencial.

Créditos Imagem:

Kelsey Knight; DR Travel agency’s

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