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Mais de 60 nepaleses e indianos inscritos em Santa Comba da Vilariça

Imigrantes com aulas gratuitas de português

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

REPORTAGEM Imigrantes recebem aulas de português em Santa Comba da Vilariça, Vila Flor

Imigrantes do Nepal e Índia estão a receber aulas grátis de português na aldeia de Santa Comba da Vilariça, no concelho de Vila Flor.

Na aldeia do distrito de Bragança moram cerca de 400 pessoas, contou à Lusa o presidente da junta de freguesia, Fernando Brás. Inscritos para frequentar estas lições estão mais de 60 pessoas e continuam a aumentar e por isso há turmas em lista de espera.

O autarca local estima que sejam 70 a 80 os imigrantes a residir em Santa Comba da Vilariça e nas localidades limítrofes. Começaram a recebê-los com mais expressão há cerca de três anos.

“Fizemos, só de uma vez, 55 inscritos E agora há mais pessoas a inscreverem-se também para obter esta formação, tão importante”, partilhou Fernando Brás.

Em novembro, arrancou o primeiro grupo e ainda lhes falta cerca de um mês para concluir.

A região, explicou Fernando Brás, tem um grande défice de mão-de-obra, em especial no setor primário. A maioria dos imigrantes trabalha ou na agricultura ou numa fábrica de cogumelos em Benvelhai, no mesmo concelho.

“Temos ajudado naquilo que podemos. Não só porque precisamos da mão-de-obra mas, sobretudo, porque são seres humanos”, afirmou o presidente da junta.

A hora marcada para o início das aulas é às 19:00, depois do trabalho, na casa do povo, e terminam às 23:00.

Nagendra, nepalês de 42 anos, foi um dos que chegou mais cedo no dia em que Lusa foi assistir e em que o tema foi o particípio passado dos verbos. Ajudou a arranjar as mesas e as cadeiras, dispostas em “u” no espaço polivalente onde é ministrada a formação.

“Isto é muito útil, porque aprendemos mais o português e precisamos disso. Porque estamos aqui em Portugal. A nossa professora está a ajudar-nos nisso”, disse Nagendra antes do início da sessão.

A professora é Conceição Aleixo. É uma estreia a dar formações deste género, para imigrantes.

“Encontrei pessoas que realmente querem estar cá. A maior parte está a trabalhar e a contribuir para a sociedade. E, além disso, querem mesmo ficar no nosso país e estão muito gratos pelas oportunidades que damos”, contou Conceição, que trabalha para a Consultua.

É o caso de Santosh, de 32 anos. Trabalha na agricultura. No Nepal era camionista, onde ganhava entre 200 a 300 euros por mês. Veio em busca de um salário melhor e com menos horas laborais.

Santosh chegou a Portugal há quatro anos. Percebe a língua, mas ainda tem algumas dificuldades em falar.

”Trabalho oito horas, depois vou a casa e venho para a escola. No dia seguinte, acordo às 6:00, mas vale a pena”, respondeu sem hesitar.

Rosani tem 24 anos e há oito meses que se aventurou sozinha fora do Nepal. Disse que veio para ter um futuro melhor. É outra das formandas que quer dominar a língua. Quando isso acontecer, pondera prosseguir estudos. Para já, encontrou emprego na fábrica de produção de cogumelos.

“Aqui as pessoas são simpáticas e é muito bonita Santa Comba. (…). A minha família não está aqui, mas estas pessoas são mais do que minha família”, compartilhou a jovem.

Sunil também é da região dos Himalaias. Revelou um percurso duro para chegar a Portugal. Desembarcou na Grécia e de lá foi a pé até Itália. Depois, apanhou autocarros.

“Passei pela Albânia, Itália, França, Espanha…(…). Acho que Portugal é um bom país. A agricultura e o tempo são parecidos com o Nepal”, partilhou, dizendo sobre a língua que tem uma gramática muito difícil.

Estas formações, que têm financiamento, são feitas por entidades integradas no Programa Qualifica.

“Andámos durante cerca de um ano a tentar arranjar uma formação para esta gente. Uma das coisas que se definiu no início foi que os primeiros a frequentar estes cursos seriam as pessoas que têm mais necessidade”, referiu Fernando Brás.

A necessidade é a de dominar a língua de acolhimento e serem autónomos para, por exemplo, renovar documentos junto da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) ou fazer o reagrupamento familiar.

Kabin, nepalês, está nessa situação.

“O sistema é muito mau. Estou a viver em Portugal há seis anos. Há quatro que estou em Santa Comba. Estou há três anos à espera de marcação para conseguir trazer a minha família, mas é muito difícil”, queixou-se.

Antes da aula, a Lusa passou pelo centro da aldeia.

Por volta das 17:00, há movimento nas ruas. Na mercearia de Carla Brás, àquela hora quase todos os clientes são imigrantes. Com eles, fala inglês para auxiliar no que pode. À reportagem disse que a comunidade estrangeira traz movimento e que acha graça à troca cultural.

“As casas que estavam aí paradas, sem ninguém, está tudo habitado. (…) No início, foi um bocadinho estranho. Porque não falavam português e a cultura e a alimentação são muito diferentes. Não estávamos preparados”, recordou Carla.

O problema resolveu-se com a troca de contactos, que permitiu a Carla encontrar os fornecedores certos para começar a encomendar as especiarias, arroz basmati e outras comidas apreciadas pelos novos residentes.

Por LUSA


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