A importância de ter uma familia que aceite bem e faça parte da equipa é uma das principais razões para que corra bem esta dificil missão que é a de salvar e cuidar dos animais abandonados…
A minha Mãe sempre foi o pilar inquebrável na minha vida, para além de todos os valores que me transmitiu de partilha e amor ao próximo, sempre foi um dos membros ativos do nosso grupo. Aos 90 anos continuava a ajudar nas tarefas diárias, desde a confecção da comida à lavagem das mantinhas dos muitos bebés que por nós passam e principalmente ao carinho dispensado aos que eram criados na nossa casa…

Com ela aprendi que onde cabem seis, cabem sete e onde comem quatro, comem cinco. Aprendi que o amor e o carinho por vezes também curam quem anda nesta vida de loucos a tentar amenizar o sofrimento daqueles que são descartados ter uma colo de Mãe.

Uma estrutura familiar forte é o mote para que um bom trabalho de recuperacão dos corações feridos que se cruzam nas nossas vidas chegue a bom porto. Por vezes “basta pouco para se ser feliz”, dizia-me ela, e no seu exemplo de vida, isso era notório.

Por isso tudo, quando gostamos do que fazemos o resultado só pode ser o melhor possível …
Porque eu tive uma mãe guerreira que me ensinou tudo o que sou hoje mas também me acompanhou nesta luta desigual que travamos com quem teima em abandonar vidas.
Nós somos uma familia a quem chamam Associação Coração100Dono…
E num momento tudo muda. E assim num ápice levam-nos tudo, o chão, os sorrisos, o colo e deixam nos um vazio dificil de suportar. Parece-me que hoje nada faz sentido, é tudo demasiado estranho e o corpo dói todo…

Quando pensamos que o Ano já não pode piorar mais a vida prega-nos uma rasteira, e perdemos a nossa Mãe, o nosso amor maior, quem nos deu a vida. A minha mãe era do Amor e gostava do Mimo, quem a conheceu sabe do que falo e sabe que ela era a pessoa mais bondosa que passou na nossas vidas.
A minha mãe partiu há uma semana. Nada previa, foi de repente. Estamos todos devastados com esta nossa perda. E quando falo em família, falo também nos cães que vivem em nossa casa. Como o Zé Maria que foi criado ali mimado diariamente pela minha mãe. O Zé Maria desde que a minha mãe faleceu meteu-se quieto a um canto e assim vai fazendo o seu luto. Triste. Em sofrimento pela falta da sua “avó” com quem brincava tantas vezes.

Outra coisa engraçada que aconteceu na véspera da noite em que a minha mãe morreu de ataque cardíaco, quando já estava na cama sempre bem disposta disse-me: “Filha traz lá o canito bebé para eu lhe dar uns beijinhos de boa noite”. E eu levei. A minha mãe era assim. Um coração bondoso ao cimo da terra. Sem preconceitos, sem mal nenhum no corpo.

Talvez esta crónica seja uma forma de eu começar a fazer o meu luto, o início dele, porque os animais que cuido, e são centenas, precisam de mim. Ao fim ao cabo fazemo-nos bem uns aos outros, é uma espécie de partilha. Eu faço o que posso por eles e eles retribuiem com muito amor.