Chama-se Natalia Lavirova, tem 23 anos e vive numa carruagem na estação de metro, em Kharkiv, com o seu gato Marte, desde 24 de fevereiro, quando começou a ofensiva russa na Ucrânia. A jovem conta a sua história no Instagram e a do seu gato escocês.
De acordo com Natalia, que vive numa estação de metro para escapar aos bombardeamentos à sua cidade, que são constantes desde o primeiro dia de guerra na Ucrânia, o seu gato nunca tinha saído de casa, nunca estivera na rua.
Com receio de o levar para um abrigo povoado por muita gente e outros animais, nas primeiras horas decidiu deixar o gato no apartamento mas, foi por pouco tempo, já que Natalia não conseguia estar no metro deixando o gato a correr o risco de ser bombardeado em casa. E foi buscá-lo… no início foi complicado.
“Desde o início da guerra a nossa vida mudou radicalmente. Antes pensávamos em roupas, modelos de telefones, lugares para as próximas férias. Agora tudo está diferente. O mais importante para nós é a vida”, diz.
Natalia Lavirova revela que com a guerra “deixámos de nos preocupar com a nossa aparência ou se estamos a usar roupas de marca. Só nos interessa saber que nós e os nossos familiares estão seguros.”
“Começamos a escrever mensagens várias vezes ao dia para a família: ‘Como estás?’ que agora é igual a ‘amo-te'”.
Natalia fala muito sobre o gato Marte, quando ela saiu de casa na primeira noite, achou que ele ficaria muito stressado no metro, porque ele só tinha saído de casa apenas duas vezes e foi para ir ao veterinário. Natalia estava preocupada com seu gato quando o bombardeamento começou. Então decidiu ir buscá-lo.
Os primeiros dias foram difíceis para o gato. “Ele ficava o tempo todo enrolado no cobertor”, mas aos poucos foi-se adaptando. “Trouxe para o metro todas as coisas dele para ele se sentir o mais em casa possível”.
Marte virou um Rei na estação de metro e até se adaptou à nova vida. “No início não comia quase nada e não conseguia ir à casa de banho. Ele é um gato muito gentil e estava sempre aconchegado a mim. Após alguns dias começou a adaptar-se, a comer bem e a defecar e urinar. Trouxemos de casa os seus pratos, o caixa de WC, brinquedos para ele não estranhar muito”.
Curiosamente, Marte adaptou-se tão bem que já faz da carruagem do metro a sua casa: “Agora, para ele, a carruagem é como uma casa. Ele sabe onde está a comida e água. No começo dormia enrolado connosco. Mas nas últimas semanas, ele vai descansar na outra extremidade do vagão.”
Marte até adquiriu novos hábitos. Andar, por exemplo. “Em casa não podíamos levá-lo para a rua porque não era castrado. Nem tínhamos trela para o levar a passear. Só que o nosso Marte começou a notar que a vida estava animada na plataforma, que havia imensos animais como ele e que as pessoas se desdobravam em atividades. Ele também queria fazer parte desse movimento. Mas sem coleira na plataforma era perigoso, tivemos que adquirir uma coleira de cão de um vizinho”, conta Natalia.
“O Marte ficou chocado. Era um acessório que estava a usar pela primeira vez. No início fez resistência, mas depois acostumou-se e, agora, temos o hábito de passear com ele todas as noites. Andamos na plataforma, no último andar, na escada rolante”, diz.
No geral, fez uma rápida adaptação. Às vezes ele zanga-se, é um barulhento. Mas todos eles são quando estão crcunscritos a um espaço com muita gente. Temos muitos animais na estação. E até tem um melhor amigo, o Casper”, remata.
“Alguns dizem que trazer o animal de estimação para o metro não é fácil e traz muitos problemas: não é verdade! Algumas pessoas abandonaram os animais de estimação. Não sei porque é que as pessoas pensam que merecemos mais que os animais? E ficar sentado em silêncio num abrigo antiaéreo?”
Natalia também fala sobre como vive essa situação: “Putin queria desunir os ucranianos, tornar-nos inimigos uns dos outros. Mas o povo está unido e esta situação uniu-nos ainda mais”
“O povo ucraniano não deixará ninguém em apuros: não vamos ficar a olhar indiferentes para quem sofre, ninguém vai atacar o vizinho e ninguém vai ficar calado: somos uma nação livre e independente, não precisamos de russos no nosso território”, esclarece a jovem.
Tentativa de regressar ao apartamento
Numa das últimas publicações, Natalia disse ter regressado ao apartamento: “56 dias em que vivemos no metro… 56 dias que não dormi na minha cama… Faz 56 dias que não como na minha mesa… 56 dias em que não lavei o cabelo… 56 dias de luto e tortura”, escreveu.
“Muitas pessoas sabem que ficamos no metro quase 24 horas por dia, 7 dias por semana, desde o primeiro dia da guerra. Vivemos numa das carruagens do metro de Kharkiv. Durante todos os dias da guerra, mudamos metade do apartamento para o metro para sentirmos um pouco de conforto da casa”, contou, adiantando que o regresso ao apartamento foi estranho.
Como levaram a maior parte da casa para a estação de metropolitano, o apartamento parece vazio…
“Agora, ao entrar no apartamento, foi uma sensação de vazio e solidão. E a vida costumava estar lá…”
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Quem quiser acompanhar a história de Natalia deixamos aqui o seu Instagram: https://instagram.com/n.lavirova?igshid=YmMyMTA2M2Y=…
E o do gato Marte: https://instagram.com/maarsianin_cat?igshid=YmMyMTA2M2Y=