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O ucraniano Igor Pedin, de 61 anos, caminhou 225 quilómetros com a companheira de quatro patas

Foge da morte em Mariupol com a sua cadelinha

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

Igor Pedin, de 61 anos, andou 225 quilómetros para fugir com a sua cadela de Mariupol quando os russos começaram a matar gente.

O ucraniano, que caminhou de Mariupol a Zaporizhzhia, disse que a jornada pelas zonas de guerra afetou mental e fisicamente a sua cadela ‘Zhu-Zhu’, uma mongrel terrier já com nove anos.

A pequena Zhu-Zhu agora apresenta danos no olfato, assusta-se com qualquer som, seja de bombardeamento ou de um carro a passar e está a mancar de uma perna.

Igor Pedin e Zhu-Zhu viajaram 225 quilómetros a pé para chegarem à cidade de Zaporizhzhia, na Ucrânia, em busca de refúgio. Atualmente está em Kiev e teme agora pela vida da sua fiel amiga.

De acordo com Pedin, ele e Zhu-Zhu deixaram Mariupol após a invasão do exército russo na cidade e foram caminhando evitando minas e com o som dos bombardeamentos ao longe, através de pontes destruídas e evitando serem vistos porque a ideia era “ser invisível” para passar o mais despercebido possível.

A a 20 de Abril fez-se luz na cabeça de Pedin que decidiu abandonar a sua casa e dirigir-se a Zaporizhzhia em busca de um lugar seguro. “Os soldados russos estavam a ir de porta a porta, matavam quem queriam”, contou ao jornal Guardian.

A comida e a água também escasseavam e, três dias depois, com uma mochila de 50 quilos às costas, Pedin meteu-se a caminho com  Zhu-Zhu ao seu lado.

Pedin diz que as patas da cadela ficaram gravemente cortadas pela caminhada por cima de vidros partidos, estradas cheias de crateras e a estrutura enferrujada de uma ponte de 30 metros de altura queimada e destruída que os dois tiveram de atravessar durante a aventura aterrorizante.

Durante a travessia, passaram por 24 pontos de controle até chegar a Zaporizhzhia, onde se alojaram num refúgio seguro. 

A façanha dos dois foi tão extraordinária que num dos postos de controle  os soldados russos rodearam-no para ouvirem os relatos ousados da viagem, metendo-lhe cigarros nos bolsos e desejando-lhe boa sorte.

Quando chegou a Zaporizhzhia disse que não precisava de cuidados médicos para ele, nem veterinários para Zhu-Zhu e insistiu que estava “feliz como estava – vivo”.

Mas agora, o ex-cozinheiro de um navio diz estar cada vez mais preocupado com Zhu-Zhu.

Agora em Kiev, capital da Ucrânia, Zhu-Zhu ainda tem medo das buzinadelas dos carros, de travagens, tudo o que lhe lembra as bombas de Mariupol.

O olfato, danificado pelo fumo acre de casas e tanques em chamas, está a voltar lentamente, e Zhu-Zhu enterra o nariz na relva dos parques de Kiev com satisfação aparente.

Já existe uma conta para ajudar Pedin que já conseguiu cerca de 9000 euros para despesas com o veterinário e para ele que vive agora com os pais, Georgy, 87, e Yevdokiya, 84.

“Ela manca da perna dianteira direita e não me deixa ver o que há de mal com a perna”, diz Pedin sobre Zhu Zhu. “Ela morde-me quando tento ver-lhe a pata… Também está a reagir  muito mal aos sons. Quando ela ouve sons agudos estremece e pula para o lado”.

“Ela fica em pânico com o som dos assobios, tem muito medo porque lembram-lhe o assobio das bombas que voaram e explodiram em Mariupol. Ela tremia de medo do som de aviões militares em Mariupol. “

O ucraniano tem um amor inenarrável pela sua cadelinha. E Zhu-Zhu choraminga e chora quando o dono está fora de vista. Pedin teve de a carregar muitas vezes, nomeadamente, nos últimos dias da caminhada em que a cadela já não parecia estar a aguentar-se e não queria andar. “Eu disse-lhe. Zhu Zhu se tu não andares, nós dois vamos morrer aqui, tens de andar, vá”.

“No terceiro dia de caminhada, Zhu-Zhu estava muito cansada”, lembra. “Ela periodicamente sentava, descansava e muitas vezes lambia as patas doridas.”

Zhu  Zhu é proveniente de uma ninhada de 12 nascidos em 2013 e tem sido a fiel companheira do ucraniano que está determinado em dar-lhe os melhores cuidados.

“Não me consigo imaginar sem ela”, disse. “Antes da evacuação, prometi-lhe que a tirava viva de Mariupol e chegaríamos ao nosso destino final. Disse-lhe antes de sairmos de casa, ‘Vá e cante [como um soldado marchando]’, e ela caminhou até a porta.”

“Eu prometi que ela ficaria comigo até o fim, eu prometi.”

Créditos Imagem:

@reprodução Redes Sociais/Twitter/Guardian

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