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Sandra Andersen Eira chegou a Kviv ainda em fevereiro e alistou-se na legião internacional

Ex-membro do parlamento Sámi norueguês luta na Ucrânia

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

Sandra Andersen Eira, ex-membro do Parlamento Sámi da Noruega, está a lutar pela Ucrânia na legião estrangeira onde é médica de combate na linha da frente do exército ucraniano.

Sandra chegou cerca de uma semana depois de começar a invasão russa à Ucrânia em grande escala. Como nunca tinha estado naquele país foi até Kviv e inscreveu-se como médica de combate na Legião Internacional. 

Sandra Andersen Eira foi membro do parlamento Sami – que existe para proteger a cultura Sámi – de 2017 a 2021. É pescadora de profissão e o namorado é capitão do Rangers dos EUA.

Esta jovem Sámi fez a diferença com orgulho, determinação, autoconfiança, educação, conhecimento

Sandra Andersen Eira é do norte da Noruega e numa paisagem que lhe moldou a vida. Oriunda de uma longa linhagem de pescadores, ela é uma capitã de mar nos mares do Ártico. É feminista e política tendo aberto caminho para uma nova geração de mulheres. É uma orgulhosa norueguesa e uma orgulhosa Sámi.

Curiosa e aventureira por natureza, quis aprender sobre a paisagem e as pessoas americanas. Arranjou forma de fortalecer relações com a comunidade Seattle Sámi, nos EUA.

Sandra é co-fundadora e ex-presidente do Pacific Sámi Searvi, um grupo que organiza exposições, mostras educacionais, filmes, palestras e encontros sociais, enquanto defende os direitos dos Sámi e outros povos indígenas.

Eira nasceu e sempre viveu no Fiorde Russenes, na província de Finnmark, no norte da Noruega. O nome Russenes (Os Russos) refere-se à história com os comerciantes russos que foram para lá. É o lar de uma frota costeira de pesca comercial, transportando bacalhau, alabote e caranguejo real.

“Cresci numa cidade pequena com muita liberdade”, disse ela, “e aprendi a ser independente desde cedo”.

O clima do Ártico exige autoconfiança, sacrifício e trabalho duro. Eira identifica-se com a paisagem e com as suas gentes que ali vivem há gerações.

Um lado da família escolheu ficar à beira-mar para pescar, enquanto o outro eram pastores de renas. O avô vendeu as renas para ficar na costa. A vida dos Sámi costeiros é diferente da dos pastores nómadas.

Como resultado da norueguização e supressão da cultura Sámi que começou na década de 1850, a língua foi em grande parte perdida.

Durante gerações, os pais não ensinaram aos filhos a língua sámi para protegê-los da perseguição.

Ao mesmo tempo, se tivessem um nome Sámi não podiam nem possuir terras. Não se podia admitir que se era um sámi.

“Não tinhamos valor como seres humanos; éramos considerados menos inteligente”, disse Eira.

Os crânios dos Sámi foram até medidos para confirmar “cientificamente” esses preconceitos.

Os indígenas Sámi não foram autorizados a ser evacuados com os noruegueses durante a Segunda Guerra Mundial e Eira contou como a mãe não foi autorizada a embarcar no mesmo autocarro que outros noruegueses quando era jovem.

Eira cresceu a falar norueguês e em criança aprendeu a falar sámi na escola. As reformas linguísticas e a educação desempenharam um papel fundamental na preservação do povo Sámi.

Eira, como a maioria, entende que a língua mantém viva uma cultura. “Na língua norueguesa há cinco palavras para neve e na língua sámi, 300”, disse ela. “Há muitas palavras para descrever os elementos, o clima da região do Ártico onde vivemos. A linguagem é quem somos.”

O governo norueguês concede fundos ao Parlamento Sámi para patrocinar doações para projetos artísticos, cinematográficos, musicais e literários. Por lei, a NRK (a Norwegian Broadcasting Corporation) transmite notícias no idioma sámi.

Bolsas generosas estão disponíveis para estudar Sámi. Os direitos civis foram totalmente restaurados ao povo Sámi.

Na Noruega hoje, há um novo interesse geral na cultura Sámi. “A curiosidade é uma coisa boa.” disse Eira. “Isso leva ao conhecimento.”

No geral, ela está satisfeita em ver que agora há um forte interesse pela cultura Sámi, mas, ao mesmo tempo, entende os perigos da apropriação cultural. “A cultura não deve ser mal utilizada como entretenimento”, disse ela.

Muitas atrações turísticas na Noruega apresentam representações imprecisas dos Sámi e os artesanatos tradicionais são frequentemente mal apresentados em empreendimentos comerciais.

O MAR É LIBERDADE

“A vida no mar dá-me liberdade”, disse Eira. “Não é apenas um trabalho, é um modo de vida.”

Sandra tem orgulho da profissão e entende que “não se ganha nada de graça”.

Nos mares do Ártico, a pesca é feita durante as tempestades de inverno, pois os peixes partem para a Rússia durante a primavera. Com condições traiçoeiras é um trabalho perigoso. “Ou se ama, ou não”, disse ela.

As mulheres representam apenas 1% do pessoal da frota pesqueira na Noruega e, até 2018, não tinham direitos e benefícios iguais aos dos homens. Antes disso, nem era possível ter o direito de trabalhar nos barcos e ser mãe.

Foi a sua indignação com a pesca e os direitos das mulheres que a levou até à política e ao cargo no Parlamento Sámi, o que levou à mudança em 2018. Houve um pouco de frenesim nos media, pelas novas mudanças.

Como parlamentar Sámi trabalhou com o Ministro das Pescas em Oslo para recrutar mais mulheres para trabalhar em barcos de pesca e garantir mais direitos para elas, e vê-se como uma defensora de todas as mulheres em profissões minoritárias. “Sou uma dupla minoria como mulher e Sámi”, rematou ela a um jornal norueguês o ano passado. 

O AMOR FEZ COM QUE FOSSE VIVER PARA OS ESTADOS UNIDOS…

Esta jovem bem lançada na política deixou tudo por um grande amor e foi viver para os Estados Unidos da América mas continua a administrar um negócio de pesca na Noruega

A felicidade sorri para a ex-representante do Parlamento Sami e pescadora Sandra Andersen Eira.

Sandra mora nos Estados Unidos desde julho de 2021, onde conheceu o grande amor de sua vida.

O namorado, James Reese Staley, de 29 anos, é um soldado profissional e capitão. Está estacionado na base militar de Fort Benning e pertence à força de elite dos Rangers dos EUA no Exército dos EUA.

É assim que Eira explica o que aconteceu. “A vida aconteceu. Eu mudei e mudei. Eu sempre soube que é nos EUA que vou acabar. Quando finalmente cheguei aqui estava calmo e tranquilo.”

O casal mora na Geórgia e Eira visa a dupla cidadania.

Ela diz que é nos Estados Unidos que quer ficar, tanto de corpo quanto de alma.

“Parece que finalmente estou em casa”, rematou.

Não se sabe ainda porque razão Eira decidiu ir lutar para a Ucrânia.

Porém, com um palmarés de bravuras, terá fortes razões para lá estar.

 

 

 

 

Créditos Imagem:

Twitter/ JOHNNY ANDERSEN / DR

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