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Judite Sousa esteve em conversa com Daniel Oliveira no programa ‘Alta Definição’, da SIC

“Estou cada vez pior”

 |  Alexandra Ferreira  | 

“Não passou, sofro cada vez mais. Estou cada vez pior”, desabafou Judite Sousa na entrevista que deu a  Daniel Oliveira, no Alta Definição, da SIC, sobre a morte do filho André.

A jornalista deu uma entrevista a Daniel Oliveira na qual falou da morte do filho e do processo de luto pelo qual continua a passar.
Judite Sousa emocionou-se várias vezes ao falar do filho, André Sousa Bessa, que morreu em junho de 2014, aos 29 anos, vítima de um acidente numa piscina.

“Não voltarei às redes sociais a publicar imagens do meu filho, nem mensagens. Este livro foi escrito com a intenção de colocar um ponto final nessa parte da minha vida”, começou por esclarecer a comunicadora, referindo-se ao seu mais recente livro – ‘Pedaços de Vida’.

Questionado por Daniel sobre qual seria a pergunta que faria a si mesma no contexto da entrevista, a jornalista rematou: “Como é que consigo estar viva?”. 

“Já estive muito perto da morte nestes oito anos. Consigo estar viva porque algo me diz que ainda não chegou o momento de eu capitular perante a vida”, disse.

Judite diz que a morte do filho chegou de forma repentina, “sem aviso”. “É chegarmos ao hospital às 5h da manhã e o médico vir ao nosso encontro e dizer-nos que o nosso filho morreu. Quando uma hora antes o último pensamento que nos passava [pela cabeça] era que isso viesse a acontecer”, esclareceu.

“O meu filho foi um jovem do seu tempo, que faleceu com 29 anos, que se divertia com os amigos aos fim de semana, mas que às 9h da manhã, de segunda a sexta, estava sentado à frente do computador a fazer análise financeira de empresas”, garantiu, mostrando-se indignado com o que foi dito na imprensa sobre o filho.

Hoje, Judite considera-se uma “mulher resignada”, que vive sobretudo o presente.

Provavelmente não estive bem em muitos momentos, claro que não, tenho noção disso, mas não foi racionalmente. Não estava no pleno uso das minhas faculdades mentais. Uma pessoa em depressão grave perde o controlo sobre os seus atos e palavras. O problema é que os outros não têm disponibilidade mental para compreenderem, para perguntarem ‘porque é que ela fez isto?’. Hoje nem temos tempo para pensar em nós mesmos, quando mais nos outros”, justifica.

Judite confessou que guardava um sentimento de culpa pelo que aconteceu ao filho.

Quando se dá uma morte a dimensão do sentimento de culpa torna-se superior. Morreu porquê? Em que é que eu falhei? Se naquela sexta-feira, 27 de junho, tivesse tido um jantar tão importante que levasse o meu filho a dizer ‘vou ao jantar com a minha mãe’. A culpa é isto. E se?”.

“É isto que passa pela cabeça de um pai ou de uma mãe. Se eu não me tivesse divorciado, se calhar o André ainda estaria vivo”, sugere em lágrimas.

A jornalista confessa ter-se sentido abandonada.

“Senti-me só praticamente desde o dia em que o André partiu. Muitas pessoas acham que a forma de mostrar os sentimentos é estarem connosco na hora dos acontecimentos, e passados uns anos já passou. Não passou. Sofro mais agora do que há oito anos. Sofro cada vez mais. Estou cada vez pior. Estou naquela fase em que vejo os amigos do meu filho com os seus filhos e eu nunca irei ser avó. À medida que o tempo passa, há sempre um elemento novo que agrava as memórias”, conclui, admitindo: “A morte de um filho é um naufrágio”.

A POLÉMICA SAÍDA DA CNN

Como não podia deixar de ser, durante a entrevista também se falou da sua polémica saída da CNN Portugal e revelou que não acredita poder regressar à televisão.

“Neste momento acredito que é impossível voltar a trabalhar em televisão! … E também não sei se queria. Só uma pessoa que estivesse fora da sua plenitude de funções é que quereria trabalhar com uma pessoa de quem se disse que tinha enlouquecido, que tinha dito que foi para a guerra sem um seguro de saúde, sem ver uma moeda do território da guerra. Acho que nenhum empresário dá trabalho a uma pessoa que diz estas coisas, sendo que estas coisas foram todas… verdade”, lamenta.

Judite deixou de colaborar com a CNN Portugal depois de ter tido uma série de desentendimentos com a direção do canal logo após a sua deslocação como correspondente na guerra da Ucrânia.

Tive necessidade de as dizer porque o perdi o controlo dos acontecimentos, em circunstâncias normais não teria dito. Na nossa profissão, o ritmo de circulação de informação é tão veloz e tão rápido que muitas vezes as coisas fogem-nos das mãos e naquele caso os acontecimentos fugiram-me das mãos”, garantiu a jornalista.

“Houve um post no Facebook e uma senhora que me perguntou se eu estava a trabalhar na CNN Portugal. E eu, acho que eram 23h30, eu na minha solidão respondi que não. O telefone começou a tocar, a perguntarem se era verdade e o que é que queria dizer com aquilo”, conta.

“Eu perdi o controlo da minha comunicação verbal, fiz afirmações que obviamente não devia ter feito. Dito isto tudo aquilo que eu disse foi verdade”, remata.

A jornalista reconhece culpa no que se passou. “Autodestruí-me. O que o meu filho pensaria se estivesse vivo. O meu filho ficaria chocado com o que aconteceu há seis meses. Não teria coragem de o enfrentar. Acabei por entrar numa história de autodestruição”. 

“Deixei a CNN porque estava profundamente infeliz, só que as circunstâncias da minha saída foram horríveis. Eu própria perdi o controlo de acontecimentos que me envolviam diretamente”, disse.

VIVER NO DIA A DIA

Judite vive um dia de cada vez. “Não sei como vai haver a minha vida. Só vivo o presente”, reflete.

“Durante muitos anos não consegui ver uma fotografia do meu filho na minha sala. Houve uma altura em que passei não só a conseguir ver as coisas do meu filho, como a fazê-lo com muito gosto, ternura, saudade, vaidade. O meu filho era tão especial, tão interessante, tão bonito. Agora tenho dezenas de fotografias dele espalhadas pela minha casa”, termina.

Quando chegou a casa a jornalista colocou na rede social uma fotografia da entrevista, ela com Daniel Oliveira e escreveu: “Com a entrevista ao Daniel Oliveira, encerra-se o ciclo de entrevistas no âmbito do meu décimo primeiro livro ” Pedaços de Vida”. Segue-se agora o contacto directo com os leitores nos mais diversos pontos do país. Muito obrigada.”

O livro já vai para a terceira edição.

 

Créditos Imagem:

Judite Sousa/SIC, Alta Definição

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