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Annie Ernaux foi premiada pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes”

Escritora francesa ganha Nobel da Literatura 2022

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

Annie Ernaux, escritora francesa, ganhou o Prémio Nobel de Literatura 2022 pela sua “prosa cristalina”. Aos 82 anos é reconhecida pelos seus romances baseados na vida real como divórcios, cancro ou aborto.

O anúncio foi feito quinta-feira, dia 6, pela Academia Sueca, em Estocolmo.

A escritora, que escreveu sobre o aborto que fez nos anos 1960, Annie Ernaux, francesa de 82 anos, ganha assim o Prémio Nobel de Literatura 2022.

Segundo o comunicado da Academia, o prémio foi concedido “pela coragem e acuidade clínica com que desvenda as raízes, os estranhamentos e os constrangimentos coletivos da memória pessoal.”

Uma das mais importantes autoras da atualidade francesa, Annie escreve romances sobre a vida quotidiana do seu país e era uma das favoritas a obter o prémio.

Professora universitária de Literatura, Annie Ernaux escreveu quase 20 livros, nos quais aborda o peso da dominação das classes sociais e a paixão do amor, dois temas que marcaram a sua trajetória.

Com uma obra, essencialmente autobiográfica, uma radiografia da intimidade de uma mulher que evoluiu no rasto das grandes mudanças na sociedade francesa do pós-guerra, estreou-se nos escaparates em 1974, com o romance “Les Armoires Vides”.

Ernaux só obteve reconhecimento internacional após a publicação de “Os Anos”, em 2008, com o qual ganhou o prémio Renaudot. Sobre este livro, a Academia disse que “é seu projeto mais ambicioso, que lhe deu uma reputação internacional e uma série de seguidores e discípulos.”

Entre seus livros está “O Acontecimento”, de 2000, em que relata um aborto clandestino que fez nos anos 1960. A Academia afirmou que sua “narrativa clinicamente contida” sobre o aborto ilegal de uma narradora de 23 anos no livro continua a ser uma obra-prima.

“É um texto implacavelmente honesto, onde entre parênteses ela acrescenta reflexões em uma voz vitalmente lúcida, dirigindo-se a si mesma e ao leitor em um único e mesmo fluxo”, declarou a Academia.

Quem é Annie Ernaux?

A vencedora do Nobel de Literatura de 2022, atualmente com 82 anos, foi premiada pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal”, explicou o júri do Nobel.

Com este prémio Annie merecidamente mete ao bolso cerca de 900 mil euros para continuar a escrever sem restrições.

“Considero que é uma grande honra e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade receber o Prémio Nobel”, declarou Ernaux ao canal de televisão sueco SVT. Ela considera que deve continuar a testemunhar “uma forma de equidade, justiça, em relação ao mundo”.

Annie Ernaux é a 17ª mulher a receber a honra, entre os 119 laureados desde a criação do prémio em 1901.

Nascida em 1940, Annie Ernaux viveu até aos 18 anos na cafeteria “suja, feia” dos pais, em Yvetot, na Normandia (norte de França), ambiente do qual saiu graças a um mestrado em Literatura Moderna.

Entre as obras mais conhecidas estão “O Acontecimento” (2000), “Os Anos” (2008) e “Les Armoires Vides” (1974).

Nesse romance de tom áspero e violento, a protagonista descreve os dois mundos incompatíveis em que vive na adolescência: por um lado, o da ignorância, grosseria dos clientes bêbados do café, da pequenez dos pais; por outro, o “da facilidade, da leveza das meninas” das classes mais abastadas com quem convive na escola.

“O Acontecimento” conta o drama de um aborto clandestino que ela fez em 1963 e foi transformado em filme no ano passado. O seu estilo seco e sem lirismo tem sido objeto de estudo, e chamado de “autobiografia impessoal”.

Uma de suas referências é a feminista Simone de Beauvoir, de quem ela segue a atenção cuidadosa aos detalhes que marcam sua vida.

“A vergonha” (1997) é sobre a perda da virgindade; o fracasso de seu casamento é tema de “Uma mulher congelada” (1981); e a experiência do câncer de mama está em “L’usage de la photo” (2005). Em “Uma paixão simples” (1992), descreve de maneira crua a alienação do amor.

Com sua prosa cristalina, Annie Ernaux estava entre os nomes favoritos nos círculos literários, mas ela considera o prêmio uma “surpresa”.

“A sua obra carece de concessões e está escrita numa linguagem simples, limpa”, disse o académico Anders Olsson ao apresentar o trabalho da vencedora do Prémio Nobel.

O último livro, “Le jeune homme”, foi lançado em maio pela Gallimard, a sua editora durante toda a carreira.

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