Durante séculos e vidas o livro foi o cofre do saber, foi o gosto de procurar e o prazer de encontrar, foi quem propôs caminhos e destapou pensamentos, foi o trocar do tempo inútil pelo ganhar dum tempo novo, foi o companheiro que não pedia companhia, foi o mestre sem mestrado, foi o confidente que também nos fez confidências, foi o parceiro calado de quantas dúvidas, hesitações e sonhos.
O livro foi tudo isto, e outro tanto que achem que foi.
Presença importante e desejada numa estante caseira era a duma Enciclopédia, a que posso chamar um
dicionário do saber, que continha informação detalhada sobre os mais variados temas, e que quando pesquisada, informava, corrigia e ou dava a conhecer, ciência, arte e o mundo, pela mão de quem, de cada assunto, mais sabia; havia várias editoras, algumas altamente prestigiadas e, cada enciclopédia, tinha um número variável de volumes; as melhores actualizavam a informação em adendas periódicas.
Ter na sua estante uma Enciclopédia era o sonho de cada um, só limitado pelo preço, que não era realmente acessível a todos.
O livro em papel, que se podia palpar, sentir, cheirar, e folhear ao toque suave dos dedos, passou de repente a ter um parceiro digital, que vira por si as folhas, e se fecha e até arruma, com um simples clique, sem sequer requerer prateleira ou estante que o recolha ou exiba.
O safanão foi duro, diziam uns que mortal, mas o livro de papel resistiu e luta, em busca dum lugar
permanente na mudança, o que vai conseguindo bravamente; mas as a tão desejadas enciclopédias
parecem feridas de morte tal qual eram, tão somente porque o paradigma hoje é outro: quando se quer saber qualquer coisa, confirmar ou buscar informação, basta carregar no botão, mesmo aquele ali â mão no telemóvel, e o motor de busca faz o resto.
E a profusão é inimaginável, como imaginável era que alguém, na minha juventude, sonhasse que tal pudesse um dia acontecer.
E todos passaram a ser sábios. E quando não o são… de facto até parecem.
Esta conversa deriva de ter sabido que, mesmo as mais modestas bibliotecas, que há anos se dedicam ao
silencioso, mas prestimoso serviço de empréstimo gratuito de livros, a quem os quer ler ou consultar, já
não aceitam a oferta de enciclopédias, por falta de espaço para as acomodar.
Como o mundo muda! E Isso digo eu, que eterno amante do livro de papel que encheu a minha vida, acabei sendo dos primeiros a ter computador…
E aqui fica o meu pensamento para o texto de hoje:
Por grande e desejado que hoje sejas, podes amanhã ser esquecido e
desprezado…