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MUDA
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EMILY HOBHOUSE

Noventa e sete anos volvidos neste 8 de Junho falecia em 1926 aos 66 anos de idade só e na penúria, em Kensington (Londres), uma mulher cujo nome devia ser relembrado e escrito em letras garrafais!

Ao seu funeral ninguém apareceu. Os seus restos mortais, meses mais tarde, foram enviados a bordo de um navio à então União da África do Sul.

Os esforços de sua graça Emily Hobhouse eram considerados no ‘Velho Albião’ por muitos de ‘traição à pátria’ – contrariavam certas acções militares do maior Império da História da Humanidade na guerra que mais baixas lhe custou em África.

Emily Hobhouse seria actualmente celebrada como paladina única da defesa de Direitos Humanos.

A campanha Hypatia Trust angariava ultimamente fundos para que em sua memória lhe fosse erguida uma estátua em Cornwall, no sul da Inglaterra.

Na Segunda Guerra Anglo-Boer (1899-1902) a táctica de ‘terra queimada’ era aplicada para se furtar aos comandos Boer o seu aprovisionamento em propriedades agrícolas nas declaradas e independentes Repúblicas do Transvaal e do Estado Livre de Orange.

Os ingleses queimavam as casas dos boers

Não só se deparariam com mais dificuldades, como ali ficariam sujeitos a um factor emocional de inegável impacto: a enormidade da devastação causada pela guerra.

Havia, contudo, um factor ainda mais aterrador – as mulheres e crianças Boer e muitos dos trabalhadores negros dessas propriedades agrícolas eram levados para campos de concentração (praticamente ‘inventados’ na Segunda Guerra Anglo-Boer); morreriam de fome e pestilência em abjectas condições sanitárias para cima de 20.000 mulheres e crianças Boer e o número de fatalidades nos grupos de trabalhadores e trabalhadoras superaria a dezena de milhares.

Campo de concentração onde os ingleses colocam mulheres e crianças boers

Earl Herbert Horatio Kitchener (depois Marechal do Exército Britânico), distinguido em frentes bélicas no Egipto e no Sudão, ao derrotar em 1902 as forças Boer foi elevado a Viscount no seu regresso à Grã-Bretanha. Doravante, a faixa meridional africana aglutinando as ex-Repúblicas Boer denominar-se-ia: União da África do Sul.

A táctica militar de ‘terra queimada’ e de campos de concentração de Lord Kitchener na Segunda Guerra Anglo-Boer (1899-1902) acabou por causar preocupante alarme. Em 1899 Emily Hobhouse passava à liderança da Comissão de Conciliação Sul-Africana.

No ano seguinte Hobhouse organizou manifestações na Grã-Bretanha; levantava-se a voz contra as injustiças sociais cometidas na Segunda Guerra Anglo-Boer mercê testemunhos daquilo que era o quotidiano nos campos de concentração. Ao visitar a África do Sul em Dezembro de 1900 Emily Hobhouse lamentou abertamente a táctica militar de ’terra queimada’.

No ano seguinte conseguiu convencer as autoridades britânicas a permitirem que por via férrea fosse levada a Bloemfontein, a capital da agora chamada Província do Estado Livre, apreciável quantidade de mantimentos para muitos milhares de pessoas, mulheres e crianças Boer e todos os detidos em campos de concentração.

Mulheres e crianças numa tenda de um campo de concentração

As condições que testemunhara eram lugar-comum noutros campos que visitou. Emily Hobhouse regressou à Grã-Bretanha para contactar com as autoridades ao mais alto nível. Um dos deputados ao Parlamento com quem o fez foi Sir Henry Campbell-Bannerman, líder da Oposição, que em Junho de 1901 pronunciou como protesto o que passou a ser conhecido por Discurso de Holborn.

Os incansáveis esforços envidados por Emily Hobhouse emprestavam às autoridades britânicas uma perspectiva diferente da Segunda Guerra Anglo-Boer e seus campos de concentração. A Comissão Fawcett ficava encarregada de consequentes e imediatas investigações.

As cinzas de Emily estão guardadas no Monumento Nacional da Mulher em Bloemfontein, na África do Sul onde ela é considerada uma heroína.

Em 1926 os restos mortais de Emily Hobhouse eram aguardados na África do Sul por milhares de pessoas, cabisbaixas e em silêncio, em pungente gesto de pesar e respeito. As suas cinzas foram depositadas no Vroumonument (‘Monumento à Mulher’, em Afrikaans, o idioma Boer) já erguido em Bloemfontein.

Emily Hobhouse contou a história da jovem Lizzie van Zyl, que morreu no campo de concentração de Bloemfontein: “Ela era uma criança frágil e fraca que precisava desesperadamente de cuidados. No entanto, como a mãe era uma das “indesejáveis” devido ao fato do pai não se render nem trair o seu povo, Lizzie foi colocada nas rações mais baixas e morreu de fome. Após um mês no acampamento, ela foi transferida para o novo pequeno hospital. Aqui ela foi tratada com severidade. O médico de disposição inglesa e suas enfermeiras não entendiam a língua dela e, como ela não falava inglês, a rotularam de idiota, embora ela fosse mentalmente saudável e normal. Um dia ela começou a chamar sua mãe desanimada, quando uma certa Sra. Botha caminhou até ela para consolá-la. Ela acabava de dizer à criança que em breve voltaria a ver a mãe, quando foi bruscamente interrompida por uma das enfermeiras que lhe disse para não interferir com a criança porque ela era uma chatice.” Citação de Stemme uit die Verlede (“Vozes do Passado”) – uma coleção de depoimentos de mulheres que estiveram detidas nos campos de concentração durante a Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902).

Créditos Imagem:

South African History Online e Wikipédia; sahistory.org.za

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