A acusação pede seis anos de prisão para a noiva da jihad, Ângela Barreto, luso descendente, de 26 anos.
O Ministério Público de Roterdão, Holanda, pediu uma sentença de seis anos de prisão para a luso descendente e noiva da jihad, Ângela Barreto. A sessão no tribunal aconteceu esta sexta-feira e a sentença que o Ministério Público pede é a mais alta até agora contra uma mulher membro do EI.
De acordo com o Ministério Público, a mulher de 26 anos participou na Síria, na organização terrorista Estado Islâmico onde esteve seis anos e está acusada de crimes como recrutamento de jovens e tráfico de armas.
“Ela contribuiu para a morte de muitas vítimas brutalmente assassinadas. Ela permaneceu no califado até o último suspiro”, disse o promotor público no tribunal de Roterdão.
Em casos anteriores contra mulheres da jihad, não existiam tantas provas do que haviam feito no califado. No caso de Ângela Barreto, os investigadores dizem que ela recrutou mulheres jovens na Holanda para irem ao califado através das redes sociais, foi casada com três líderes do EI e ofereceu armas a um grupo.
Ângela escrevia muito à mãe sobre a guerra santa, o martírio e que queria ficar até o fim. E ficou.
“Ela era uma verdadeira mulher do EI, assim como a organização assassina e implacável precisava dela”, disse o promotor. “Ela viajou com convicção para apoiar a luta armada na Síria.”
A luso descendente acabou na Síria depois de uma infância turbulenta cheia de miséria, instituições juvenis e namoros falhados. Diz ter encontrado paz no Islão, tinha 17 anos. Pela internet, Ângela entrou em contato com um integrante do EI, outro português, Fábio Poças, que mais tarde ficou célebre pelos vídeos que colocava a circular como Al-Furqan, responsável por vídeos das horríveis execuções do EI.
Fábio Poças foi morto e Ângela acabou com um segundo e logo um terceiro marido, ambos também combatentes do EI. E ficou com o EI até o fim. Após a queda do califado, acabou num campo de prisioneiros curdo, onde o filho que estava ferido, acabou por morrer sem assistência.
Ela era livre de deixar o EI
Ângela não se distanciou do EI no documentário The Lure.
“Acho que o Estado Islâmico, como eu vivi, onde temos de sair velados à rua e não podemos fumar, onde as regras islâmicas básicas são observadas, é bom. Eu era livre para ir e vir quando quisesse. Não era como eu vi em vídeos que há cabeças penduradas pelas ruas.”
Ângela escapou do campo curdo Al-Hol no ano passado e fugiu para Idlib, no noroeste da Síria, onde ficou com várias noivas jihadistas holandesas refugiadas numa vivenda com piscina, alugada por todas. Recentemente, conseguiu cruzar a fronteira turca. A fuga foi possível graças ao recurso a dispendiosos contrabandistas e foi paga com dinheiro arrecadado pelo terrorista holandês Samir A.
Fez papel de ingénua
Durante a sessão no tribunal de Roterdão, Ângela apresentou-se como uma rapariga ingénua que não fazia ideia para o que ia e que quase imediatamente tentou voltar mas que lhe foi de todo impossível.
Porém, a justiça duvida da sua história. É que antes de partir, a luso descendente pesquisou no Google a jihad na Síria. E mesmo após a queda do EI, ela escreveu que esperava que o seu filho crescesse forte para matar o maior número possível de infiéis.
Em 2019, Ângela escreveu à mãe a dizer: “Prefiro que alguém me mate e morrer sob a bandeira islâmica do que viver uma vida longa e infeliz.” Mesmo quando se sentou à beira da piscina, em Idlib, para o documentário, a luso descendente não falou negativamente sobre o califado e até afirmou que não queria regressar à Holanda.
De acordo com o advogado de Ângela, a luso descendente vivia ‘num mundo de sonhos’ e deve por isso ter responsabilidade reduzida. O advogado pede absolvição.
De qualquer forma, o período difícil no campo curdo deve ser deduzido da punição final.
Ângela Barreto diz que está distanciada completamente do EI.
“Acho terrível o que fizeram”, disse ela a chorar na barra de tribunal. “Sinto muito. Quando vejo o que o IS fez no mundo. Lamento, sem saber, fiz parte de uma organização terrorista, por mais que não quisesse. Perdi uma grande parte da minha vida e muitas outras vidas também foram perdidas para o EI. Estou envergonhado e peço desculpas a todas as vítimas.”
A sentença sai daqui a duas semanas.