Vi nascer esta canção e tive o prazer de trabalhar com o maestro Artur Fonseca alguns anos; fui também colega de Vasco Matos Sequeira e do extraordinário Reinaldo Ferreira, de quem injustamente tão pouco se fala.
Não foi Amália quem primeiro a cantou, mas foi quem, por sugestão do seu guitarrista, deu à canção o ritmo que a tornou célebre no Mundo.
Essa Casa Portuguesa, que tão bem descrevem na letra os dois poetas, que mano a mano a escreveram ,já não existe. Hoje, “Quando à porta, humildemente bate alguém”, já se não senta à mesa com a gente, sai com a gente para o restaurante mais próximo…
A Fada do lar que fazia o petisco, paciente e sábia, há muito que descansa, e com justiça, no cemitério da aldeia. Já não há vinho da casa sobre a mesa, e ninguém já faz o pão, que sabia como nenhum outro.
Também já não há “cachos de uvas douradas,” nem rosas tem o jardim, porque nada surge de forma espontânea. Terra ainda há…mas é preciso semeá-la, e já não há quem …
Os chedeiros da tal Casa modesta, transformaram-na em menos modesta, ou simplesmente a venderam, indiferentes à história das “quatro paredes caiadas e ao cheirinho a alecrim” que delas emanava.
Mais ainda, a tal Casa Portuguesa pode ter por dono um qualquer cidadão do Mundo, que ainda acha, e bem, que Portugal é lindo, e oferece paz, boa comida, segurança como poucos países, e tem gente simpática, que até fala inglês…
O “S. José de azulejo”, ainda lá está, considerado peça de arte, mas a “promessa de beijos e os braços â nossa espera”, plenos de ternura, esses não, já lá não estão, considerados, talvez, um gesto menor dum passado “pobretana”, ou uma atrasada niquice de trazer por casa…
Nem eu nem Amália alguma vez pensamos que assim viria a ser, quando, no palco as palmas estrondosas se ouviam, premiando com certeza, a humilde, mas sublime “, Casa Prtuguesa”…
Esta foi a mais tocada música lusitana de sempre; trauteada na rua, e pelo Mundo fora, interpretada por notáveis executantes …
Ter assistido ao seu nascimento é a confirmação de que ser velho, não é de todo mau…
O meu pensamento sobre o assunto:
“Cada casa reflecte o seu dono!”