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As motivações do atacante no Centro Ismaili, em Lisboa, estão a ser investigadas pela unidade de contraterrorismo da PJ

Duas mulheres mortas à facada por refugiado afegão

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

O atacante tem distúrbios mentais e vivia em Odivelas com os filhos. A mulher morreu num incêndio num campo de refugiados na Grécia deixando-o viúvo a cuidar de três filhos.

Aconteceu na terça feira, dia 28 de Março, durante a manhã. O ataque ocorreu quando decorriam aulas e outras atividades no Centro Ismaili, precisou o presidente do Conselho Nacional da Comunidade Muçulmana Ismaili, Rahim Firozali.

Abdul Bashir, de nacionalidade afegã, nascido em 1994, atacou um professor – que ficou ferido e foi assistido no hospital – no centro Ismaili, em Lisboa, com uma faca e matou duas mulheres de nacionalidade portuguesa.

O autor dos crimes, de 29 anos, está em Portugal desde outubro de 2021, enquanto refugiado e depois da mulher ter morrido num grande incêndio no campo de refugiados de Lesbos.

O atacante foi travado pela polícia que o baleou nas pernas e foi depois detido e levado para o hospirtal de São José, em Lisboa, para ser estabilizado sob custódia da polícia. Agora, está num quarto isolado em outro hospital – Curry Cabral – por questões de segurança.

Abdul estava “armado com uma faca de grandes dimensões”, esclareceu a PSP.

As vítimas mortais são duas mulheres de nacionalidade portuguesa, Mariana Jadaugy, de 24 anos, e Farana Sadrudin, de 49, que trabalhavam no centro ismaelita a ajudar refugiados. Uma era professora de inglês do detido e, a outra, era apenas colega.

Farana Sadrudin, de 49

Farana, era sobrinha do representante diplomático do Imamat Ismaili em Portugal, Nazim Ahmad, e membro do Conselho de Subsídios e Revisão e Membro do Conselho de Conciliação e Arbitragem por Portugal na Comunidade Ismaili, que trabalhava desde dezembro de 2021 na Fundação FOCUS – Assistência Humanitária.

Mariana Jadaugy, de 24 anos

Mariana era licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, e trabalhava como voluntária na ReFood e na FOCUS.

O primeiro ministro António Costa e o chefe de estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, já expressaram “solidariedade” e “pesar” à comunidade ismaelita e às famílias das vítimas.

SURTO PSICÓTICO?…

As motivações do ataque estão a ser investigadas pela unidade de contraterrorismo da PJ.

“Não há um único indício que aponte para um ato terrorista. Podemos estar perante um surto psicótico”, disse o diretor da PJ, Luis Neves que confirmou que Bashir tinha “viagem marcada para a Alemanha para onde ia com os filhos”.

Considerando o episódio “uma tragédia”, o diretor da PJ explicou que o caso se insere num “delito de natureza comum”, reservando alguns dos dados alcançados com a investigação das forças policiais, feita em conjunto com diversas autoridades internacionais, que permitiu passar a pente fino a vida de Abdul Bashir, desde o seu país de origem, até ao campo de refugiados na Grécia e o tempo a viver em Portugal.

O autor dos crimes era conhecido como uma pessoa muito calma mas com alguns problemas mentais.

Tudo aponta para um surto psicótico condicionado por um stress pós traumáticos ou eventos como a morte da mulher. Nada legitima a prática destes crimes e acredita-se que tenha havido uma espécie de detonador – o telefonema que o afegão recebeu pouco antes dos crimes – talvez ajude a perceber o qe provocou esta tragédia.

De acordo com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o homem tinha vindo de um campo de refugiados da Grécia e a mulher, que acabou por morrer terá sobrevivido a circunstâncias difíceis. “Foi recolocado ao abrigo da cooperação europeia e era um cidadão beneficiário da proteção internacional”.

O agressor, pai de três filhos de nove, sete e quatro anos, vivia na zona de Odivelas. Os filhos estavam na escola. Abdul Bashir não é um desconhecido da comunidade muçulmana e todos os dias passava o dia no centro para aprender português, receber apoio alimentar e aprender a costurar.

O presidente da Associação da Comunidade Afegã em Portugal, Omed Taeri, disse que o viúvo era uma pessoa muito calmae nunca foi alvo de situações que pudessem ser “preocupantes.

José Luís Carneiro explicou que Abdul Bashir “tinha uma vida bastante tranquila”, tendo o ministro destacado que não havia “qualquer sinalização que justificasse cuidados de segurança” especiais.

Abdul Bashir tinha casa em Odivelas paga por uma parceria com a associação Focus. Bashir tinha de permanecer no centro Ismaili (onde é a sede da organização) o dia todo, onde aprendia a costurar, além de ter aulas de português. Abdul tinha viagem marcada para Zurique, na Suiça.

UMA COMUNIDADE PACÍFICA…

A Comunidade Muçulmana Ismaili em Portugal é constituída por oito mil pessoas, que seguem o Islão, uma das principais religiões monoteístas, cujos fiéis constituem um quarto da população mundial.

Os ismaelitas acreditam em Deus e que o seu mensageiro é Maomé.

“Há duas principais correntes no Islão: o Xiismo (Shia) e o Sunismo (Sunni). De acordo com a doutrina Xiita, onde a Comunidade Ismaili se insere, o profeta Maomé designou o seu primo e genro Ali, como o Imam da Comunidade Muçulmana, estabelecendo assim a instituição do Imamat, a quem conferem a autoridade de liderar a comunidade em assuntos espirituais e seculares”, escrevem de acordo com comunicado sobre o retrato da comunidade divulgado pelos ismailitas.

A comunidade Xiita, minoritária dentro do Islão, foi subdividida ao longo dos tempos, sendo a Comunidade Shia Ismaili a segunda maior dentro dos Xiita. O nome surgiu com Ismail, filho mais velho do Imam Jafar as-Saqid.

O Imam, líder do povo, é designado de forma hereditária desde a morte do profeta Maomé, numa linha de sucessão traçada desde o primeiro Imam Ali até ao príncipe Karim Aga Khan.

A Comunidade Shia Ismaili tem 15 milhões de pessoas que vivem predominantemente no sul da Ásia, na Ásia Central, em África, no Médio Oriente, na Europa, na América do Norte e no Extremo Oriente.

“À semelhança do mundo muçulmano, no seu todo, a comunidade Ismaili representa uma diversidade rica de culturas, línguas, e nacionalidades”, esclarecem no documento.

A Comunidade Ismaili rege-se por uma Constituição, ordenada em 1986 e retificada em Lisboa em 1998, que à semelhança das anteriores, é fundada na aliança espiritual de cada um ao atual Imam, mantendo em simultâneo a aliança que todos os Ismailis devem às entidades nacionais dos países onde são cidadãos.

Aga Khan conta 60 anos como Imam. É fundador e presidente da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN), que opera em mais de 30 países, principalmente no sul da Ásia, Ásia Central, África Oriental e Ocidental e Médio Oriente, com mais de 80.000 colaboradores.

O orçamento anual da AKDN para atividades de desenvolvimento sem fins lucrativos é de aproximadamente 900 milhões de dólares.

Em Portugal, a Rede Aga Khan está presente desde 1983.

A Fundação Aga Khan foi oficialmente reconhecida em 1996, por decreto-lei, como uma fundação portuguesa.

A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e a Fundação Aga Khan Portugal, empregam, atualmente, cerca de 100 pessoas.

As atividades da Fundação em Portugal vão desde a investigação à intervenção nas áreas da educação de infância e das respostas à exclusão social e pobreza urbana.


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