Nesta crónica semanal, tenho vindo a repor factos e costumes dos meus tempos de rapaz, no intuito de vos permitir avaliar a diferença, reconhecer vantagens e inconvenientes, ou até, suscitar naqueles que por isso não passaram, um sorriso de espanto, perante aquilo que, nos tempos de hoje, parece caricato ou até inaceitável.
Mas vista de outra perspetiva, em boa verdade a Vida dos meus velhos tempos e a que hoje se vive, conservam coisas comuns, que é interessante talvez ponderar.
Ora vejam:
Ontem como hoje, a vida continua a ser uma complicada aventura, e com os mesmos riscos; nela se cometem os mesmos erros e partilham iguais falhanços; hoje como ontem, se festejam efémeras vitórias, e o desalento e a esperança convivem em constante alternância; a vida do meu tempo e a do vosso, ela própria, continua a ter um fim garantido, marcado talvez agora para mais tarde, mas nunca previamente revelado, como sempre aconteceu.
Gerações consecutivas mudaram os sonhos, alteraram os princípios, adquiriram novos hábitos, mas todas, as de ontem e as de hoje, o fizeram sempre condicionadas, não pelo seu desejo, mas pelas circunstâncias; por isso as de ontem procuraram novos mundos, e o mesmo fazem as de hoje, e as gerações de amanhã, quiçá o farão também, até para outra galáxia.
E por fim vos digo, que levando em conta embora a singularidade de cada tempo, constato que nem nós, nem vós, nem os que ainda aí virão, se considerarão felizes.
E concluo afirmando que os tempos são também iguais, o meu, o vosso e o de amanhã, no que diz respeito à eterna insatisfação humana, que parece não ter fim.
Mas entre os tempos, há realmente mudanças, de roupagem, de ideias, atitudes e costumes, que estabelecem diferenças visíveis, que fazem pensar, ou como acima já disse, suscitam por vezes o tal sorriso de espanto, ou velada crítica.
Essas diferenças, mais a esperança com que nelas se aposta, são o raio de sol que aquece, a gota de água que cai, a nova flor que brota, o fruto que amadurece.
E assim a vida continua.
Aqui fica o meu pensamento da semana:
Em todos os tempos, o bom e o mau foram duas palavras muito próximas. Uma antecede a outra; mas nunca se sabe qual das duas está primeiro …