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O filme ‘Círculo de Silêncio’, foi apresentado a convidados e estreia em Díli para a semana

Documentário sobre viúva de jornalista morto em Timor-Leste

 |  Alexandra Ferreira  |  ,

A morte do jornalista Greg Shackleton, assassinado por tropas indonésias em Timor-Leste em 1975, fez com que a viúva, Shirley, levasse a cabo uma incansável busca pela verdade que é agora revelada em documentário.

O documentário retrata a tentativa, ao longo de 40 anos, de Shirley Shackleton descobrir a verdade sobre o assassinato do seu marido, o jornalista Greg Shackleton por tropas indonésias em Timor-Leste em 1975.
‘Círculo de Silêncio’, o documentário, foi estreado e apresentado a um grupo de convidados em Díli, que terá a primeira exibição pública na capital timorense na próxima semana e estreia em cinemas australianos em maio.

O documentário é o mais recente trabalho da Dili Film Works, numa coprodução com a Fair Trade Films. Realizado por Luigi Acquisto e Lurdes Pires, foi produzido por Stella Zammataro, Bety Reis e Glenn Scott.

O filme estreia poucos meses depois da morte da viúva de Shackleton que dedicou a sua vida à incessante procura da verdade sobre a morte do marido e quatro outros jornalistas australianos em Balibo, na fronteira com a Indonésia, em 16 de outubro de 1975.

Shirley Shackleton morreu a 15 de janeiro sem conseguir justiça para o caso das mortes de Balibo, após décadas a denunciar a cumplicidade entre sucessivos Governos australianos e a Indonésia para esconder a verdade sobre o crime.

“O filme é importante porque Shirley foi uma grande apoiante de Timor-Leste, mas considerada uma heroína na Austrália. Lutou por justiça pelos cinco de Balibo e tornou-se uma grande ativista pelos direitos humanos em Timor-Leste e pela luta da independência”, explicou Luigi Acquisto à Lusa.

“Acompanhámos Shirley ao longo de vários anos, nos seus esforços para encontrar a verdade sobre a morte de Greg e dos outros quatro. Tornou-se um caso de grande significado, que ainda não foi resolvido até hoje, nem clarificado totalmente a cumplicidade da Austrália”, explicou.

Acquisto destaca a tentativa australiana de encobrir não apenas as mortes de Balibo, “mas todo o genocídio de Timor-Leste” e admite que talvez nunca venha a haver justiça para o caso.

“O que Shirley queria é a reabertura de um inquérito que chegou a ser começado, e foi fechado, e acima de tudo a Austrália aceitar o seu papel em Timor-Leste, e pagar reparações pelo que aconteceu”, afirmou.

“É difícil, mas houve alguns momentos em que também se pensou que a independência de Timor-Leste era impossível”, notou.

O documentário acompanha a viúva do jornalista – que se tornou uma das vozes mais fortes do movimento de solidariedade australiano com a resistência timorense à ocupação indonésia — em viagens a Timor-Leste e à Indonésia na tentativa de perceber as circunstâncias exatas da morte dos jornalistas.

“Quando primeiro cheguei à Austrália, como refugiada, pensei que se falasse poderia ser repatriada. Mas conheci Shirley e ela sempre me disse para falar, para não calar a minha voz. Foi um modelo de coragem para mim”, explicou Lurdes Pires.

REUTERS/(EAST TIMOR) – Greg Shacketon

O filme inclui declarações de testemunhas timorenses que confirmam que os jornalistas foram mortos em Balibo por soldados indonésios, que os seus corpos foram queimados numa casa da vila fronteiriça e as cinzas ficaram no local.

Uma versão que contrasta com a ‘oficial’, vendida por Camberra e Jacarta, de que as cinzas dos jornalistas teriam sido transportadas e enterradas numa vala conjunta num cemitério em Jacarta, cuja campa Shirley Shackleton visita durante o filme.

Xanana Gusmão e Shirley

Emocional, o documentário retrata visitas ao local do crime, documenta as várias denúncias sobre a cumplicidade australiana com a invasão indonésia — e até o mais recente caso de espionagem de Camberra a Timor-Leste durante as negociações sobre o Mar de Timor.

Termina numa cerimónia tradicional de Korametan (o desluto), 40 anos depois das mortes, com Shirley Shackleton e um sobrinho, na casa onde os jornalistas foram mortos.

Photo: Balibo House Trust/Facebook

A morte de Shackleton, este janeiro, causou consternação em Timor-Leste – e silêncio das autoridades australianas – com Ramos-Horta a recordar a sua memória e Xanana Gusmão a recordar que foi uma mulher “destemida e implacável na sua busca pela verdade”.

Intimista, com muitas declarações de Shirley Shacketon e baseado no seu livro com o mesmo nome — vencedor de um dos prémios de jornalismo mais importante da Austrália, os Walkley, o filme pretende, segundo os produtores, ser “um testemunho da vida intensa, da coragem e determinação de Shirley para descobrir a verdade sobre os cinco assassinatos de Balibo”.

Shirley Shackleton queria que o filme sobre exibido em Timor-Leste e chegasse ao maior público possível, motivo pelo qual os produtos estão a realizar uma campanha de recolha de fundos para a dobragem do filme em tétum. Se quiser contribuir entre aqui aqui.

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